Um vídeo gravado por um vigilante da Vale após a tragédia
que já deixou 99 mortos e 259 desaparecidos mostra a destruição do local depois
do rompimento da barragem. Ele aponta que ali ficavam os escritórios e o
refeitório. Ao final, uma guarita verde aparece intacta. Ali ficava a sala onde
trabalhava o auxiliar administrativo de 34 anos, Cláudio Pereira do Santos, que
fugiu pela janela e conseguiu sobreviver.
Cláudio recebia as notas fiscais de todos os carregamentos
que chegavam à Mina do Feijão. “Eu tinha acabado de ligar para minha sobrinha,
às 12h24 conversei com ela no Whatsapp”. Logo após eu fiz o cadastro de uma
nota, muito rapidamente, e nesse intervalo eu fui para o banheiro, foi qu O
auxiliar administrativo achou que fosse um caminhão com o pneu estourado.
“Quando abri a porta já me deparei com toda a destruição”. Segundo ele, a
correnteza de lama estava a cerca de 5 metros da sala.
“Eu cheguei a ver pessoas caindo, não conheci quem, pessoas
caíram, parece que machucaram a perna, e a lama pegou”.
A primeira pessoa em que pensou foi no irmão, que ele tinha
visto entrar durante a manhã na mina. Mas não havia tempo de ligar para saber
onde ele estava. “A sensação no momento em que eu pulei a janela e comecei a
correr é que a lama ia me pegar, porque eu não olhava para trás, eu só a sentia
passando a minha esquerda”. “Ando ouvi o barulho”. Apesar do risco de morte
iminente, Cláudio disse que sentiu uma ‘paz espiritual’ durante a fuga. “Quando
eu corria ali, eu senti uma paz espiritual muito grande, como se eu fosse
morrer, mas eu estava bem com Deus. Mas, o meu psicológico teve muito medo na hora
de demorar em morrer. Se eu morresse rápido, não teria problema, foi o que
pensei na hora, mas eu tive medo de ficar agonizando na lama por muito tempo,
esse foi meu único medo”.
Como já tinha morado em um sítio na parte alta do Córrego do
Feijão, ele sabia para onde ir. Chegando lá, a primeira coisa que fez foi ligar
para o irmão, e descobriu que ele tinha saído da mina 20 minutos antes do
rompimento. O local onde Cláudio estava, no entanto, não estaria seguro se
outra barragem da mina rompesse, então, disse ao telefone ao irmão: “Se a
segunda barragem estourar vai me atingir, eu vou morrer então meu corpo vai
estar daqui [do sítio onde estava] para baixo, você avisa”.
O auxiliar administrativo conseguiu escapar, assim como mais
de 100 funcionários da Vale, as únicas pessoas resgatadas com vida após o
rompimento da barragem, ainda na sexta-feira, dia 25. “Foi um verdadeiro
milagre eu estar vivo, primeiramente porque minha sala ficou intacta, segundo
porque eu ia almoçar 12h30 e fui 11h porque me deu uma fome muito grande”.
Cláudio começou a trabalhar na Mina do Feijão em 2007, em
uma empresa terceirizada. Passou por vigia, limpeza do asfalto, porteiro, até
ser contratado efetivamente pela mineradora, há cerca de seis anos, para o
cargo de auxiliar administrativo. Neste período, de segunda a sexta, estava na
empresa de 7h30 as 16h30.
Missão e mensagem para o mundo
Da sexta-feira do acidente até domingo, Cláudio, que é
evangélico, disse que estava tão abalado que “não tinha forças para orar”.
“A minha única oração era ‘obrigado, senhor, por eu ter
sobrevivido’”. No final do domingo, ele se reuniu com a família para rezar.
“E quando a gente fez a oração, a mesma mensagem que eu
havia recebido antes a essa tragédia, foi à mesma mensagem que veio, ela [uma
parente] cantou um louvor para mim, àquele que fala ‘mil cairão ao teu lado,
dez mil a tua direita, mas tu não serás atingido porque eu sou o teu Deus’”.
Solteiro, Cláudio mora com os pais, Maria José dos Santos,
de 69 anos, e Valdemar Pereira dos Santos, de 72.
“A minha missão na Terra é cuidar dos meus pais. Eles vão
primeiro, depois eu vou”. Eles moram no Parque da Cachoeira, um dos bairros que
teve casas destruídas pela lama. “Eu fui atingido de duas formas, né, lá no
serviço e aqui no bairro”.
“Eu creio que tem um espiritual muito forte em cima disse
tudo, uma mensagem de Deus muito forte, não só para os brasileiros, não só os
sobreviventes, mas para o mundo, uma mensagem para a raça humana, de que é
tempo de colocarmos nossa vida verdadeiramente diante de Deus”, afirma Cláudio.
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