sábado, 26 de janeiro de 2019

Carros atravessam linha de fronteira entre a Venezuela e o Brasil na cidade Pacaraima, ao Norte de Roraima — Foto: Emily Costa/G1 RREm meio à tensão política, venezuelanos seguem em fuga pela fronteira do Brasil.
Por dia, entre 600 e 800 venezuelanos entram no país por Pacaraima, em Roraima.
Por Emily Costa, G1 RR — Pacaraima.
25/01/2019 14h55 Atualizado há 21 horas
Enquanto se agrava a situação política da Venezuela - agora com dois presidentes que não reconhecem a legalidade um do outro e vários protestos - centenas de venezuelanos continuam em fuga diária pela fronteira do Brasil, em Pacaraima (RR).
Segundo as cifras oficiais, entre 600 e 800 venezuelanos estão ingressando por dia no país, média que se mantêm estável desde o início do ano. Apesar disso, o clima na fronteira é de alerta.
“Não temos como prever como será nos próximos dias, mas se houver aumento temos estrutura para lidar”, disse nesta sexta-feira (25) o coronel José Rinaldo, que coordena na fronteira a Desde a criação do decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em Roraima, prorrogado até março, o efetivo das Forças Armadas foi dobrado na fronteira. Há cerca de 300 militares atuando na região, além de homens da Força Nacional, enviados para patrulhar as ruas do município que enfrenta crise na segurança com número reduzido de policiais e viaturas.
Entre os venezuelanos que cruzam a fronteira do Brasil, relatos de expectativa e apreensão se somam aos depoimentos sobre a escassez de comida, remédios e a hiperinflação.
“Os hospitais não têm nada, não se consegue comida. O que se ganha nunca dá nem para comer”, diz Marbelys Gil, 36, que chegou a Pacaraima nesta manhã ao lado dos filhos Crismar Diaz, 15, e Jonatan Diaz, 19. “Estamos pedindo a Deus que as coisas melhorem e possamos voltar”.
 operação Acolhida, de atendimento aos estrangeiros. “Acredito que haverá uma mudança na Venezuela, mas enquanto isso não acontece vamos ficar aqui no Brasil” emenda Marco Gomez, 38. “Mas se o governo muda, volto até a pé”.
É notável que o fluxo de entrada pela fronteira é maior que o de saída, mas Pacaraima também é rota dos que estão voltando ao país. Entre esses o clima de apreensão é ainda maior.
“Estou preocupado. A situação está mais tensa, mas nós temos que voltar. Nossa casa é lá”, desabafa Raul Flores, 22, que veio ao Brasil junto com a esposa para que ela desse à luz, o que aconteceu há oito dias. “Achamos muito mais seguro que o parto fosse em Boa Vista do que em Maturin [onde vivem]”.
“Sei que agora a situação está difícil. Há muitas manifestações, mas há apoio internacional e nossa expectativa é que tudo melhore”, afirma Paola Tarantini, 20, que volta a Venezuela após ir ao Chile. “Estava de férias, e só não fiquei porque me faltaram documentos”.
Protestos e presidente interino
A Venezuela enfrenta manifestações pró e contra o governo do presidente Nicolás Maduro desde a segunda-feira (21), quando membros da Guarda Nacional Bolivariana se rebelaram e pediram para que as pessoas protestassem contra Maduro.
Uma grande mobilização, na quarta (23), levou às ruas manifestantes que pediam a saída de Maduro. Durante o ato, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, declarou-se presidente interino. Segundo ele, a iniciativa tem o objetivo de montar um governo de transição até a organização de novas eleições.
A iniciativa de Guiadó foi reconhecida por Brasil e Estados Unidos, entre outros países. Maduro, que não reconhece os atos da Assembleia Nacional rejeita sair do poder e diz que os EUA lideram complô contra seu governo.
Durante os protestos, 20 pessoas morreram e mais de 350 pessoas foram presas na Venezuela nesta semana, informou nesta sexta o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).

 Imigrantes são atendidos em posto de triagem em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela — Foto: Emily Costa/G1 RR

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