Durante encontro nacional, MST reafirma compromisso com luta
indígena e quilombola.
Denunciamos as ações do atual governo que atacam diretamente
os povos do campo e das florestas e repudiamos a incitação e legitimação que
ele faz à violência28 de janeiro de 2019 14h25
A eleição do ex-campeão do exército, Jair Bolsonaro, para a
presidência representa uma das maiores ameaças ao nosso país, entre elas, a
extinção de conquistas históricas dos trabalhadores e das trabalhadoras. Salientamos
que está em jogo a vida de milhões de pessoas nas periferias das cidades e dos
povos do campo, das florestas e das águas.
A partir de sua posse, a bancada ruralista assumiu parte
importante do governo. Com a União Democrática Ruralista (UDR), que foi criada
na década de 80 para combater o MST, controlando órgãos importantes ligados à
questão agrária, há uma ameaça concreta a todos os povos tradicionais que lutam
pelos seus direitos mais básicos. Além disso, Bolsonaro e sua equipe têm como
um de seus principais objetivos a entrega de nossos bens naturais aos
interesses do capital financeiro e ao imperialismo.
Nesse sentido, uma das primeiras medidas de Bolsonaro foi à
publicação da Medida Provisória 870. Tal medida transfere para as mãos de
Nabhan Garcia a competência para identificação, delimitação, demarcação e
registros de terras tradicionais de quilombolas e indígenas. Nabhan Garcia,
ex-presidente da UDR, é um dos principais ruralistas do país, cuja família já
grilou terras indígenas. Na prática, a partir desta MP, caberá aos principais inimigos
dos povos indígenas e quilombolas a demarcação de suas terras. Consequência
desta medida será o aumento da violência no campo, à burocratização e
sucateamento das instituições que historicamente possuem a função de garantir a
demarcação de terras indígenas e quilombolas no país.
A violência contra os povos do campo e das florestas é uma
realidade histórica. Atualmente, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em
2018, aponta que foram registrados cerca de 110 assassinatos de indígenas no
Brasil. Este dado representa oito mortes a mais que em 2017. Já em 2016 a taxa
de homicídios de negros e negros foi de 40,2 para cada cem mil habitantes. No
total, 71,5% dos homicídios no Brasil tem como principal vítima as pessoas
negras. Além disso, de acordo com dados da Coordenação Nacional das
Articulações das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), nos últimos
anos, o assassinato de quilombolas cresceu 350%.
Apesar de a escravidão ter sido abolida há mais de 100 anos
atrás, ainda hoje o povo quilombola é subjugado e violentado. Considerados
gados, que podem ser pesados em arrobas, essa realidade demonstra que a
resistência quilombola continua sendo urgente e necessária no país.
A resistência indígena no Brasil enfrenta, desde 1500, a
ofensiva colonial, ditatorial e, nas últimas décadas, o agronegócio. Ao longo
deste percurso, a demarcação de suas terras tradicionais, o reconhecimento
enquanto cidadãos, entre outras conquistas, foram alcançados por meio de lutas
contra a violência e por meio da conquista de seus territórios tradicionais.
Destacamos que a luta quilombola, indígena e Sem Terra
guardam uma centralidade entre si. Elas buscam subverter a lógica que o
capitalismo aplicou a terra. Para nós, a terra é solo sagrado, lugar onde
vivemos, colhemos o alimento para a vida e reproduzimos relações mais humanas e
emancipadoras.
Por isso, denunciamos as ações do atual governo que atacam
diretamente os povos do campo e das florestas e repudiamos a incitação e
legitimação que ele faz à violência, além da MP 870. Em paralelo, reconhecemos
o processo de luta dos povos indígenas e quilombolas como central para a
construção de uma sociedade mais igualitária e justa. Também nos solidarizamos
com a resistência quilombola e indígena e reafirmamos o compromisso de estarmos
lado a lado na defesa de seus territórios e dos direitos conquistados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário