Violência contra a mulher é preocupante em Parauapebas
- Francesco
Costa | Portal Pebinha de Açúcar
- Publicado
em: 14/05/2019
Apesar de tempos tão modernos, os gêneros parecem não se
entender dentro dos espaços que, a cada dia, convergem para ser o mesmo; tendo
em vista que não há mais aquela “velha qualificação” de que esse é trabalho ou
lugar de mulher e aquele é trabalho ou lugar de homem.
O machismo e a sociedade patriarcal vêm sendo diluídos com a
chegada da igualdade de gêneros, mas, para que isso aconteça, tem sido preciso
enfrentar a resistência de muitos que, por muitas vezes, chegam ao extremo
iniciando desde ameaças, coação, agressões verbais, agres Em Parauapebas, coincidência ou não, dois marcos
trágicos foram fincados no mesmo dia, apenas, em anos diferentes; assim, os
dias 31 de março de 2018 e 31 de março de 2019 ficaram manchados com sangue. Na
primeira data, Sindicléia de Carvalho Vieira Santos, 42 anos,
esposa do então secretário municipal de Desenvolvimento de Parauapebas, Isaías
Queiroz de França, que foi assassinada quando saída do culto da igreja
Assembléia de Deus Mãe, Bairro Altamira. Já na mesma data, este ano, a
comerciária Dayse Dyana Sousa e Silva foi assassinada pelo seu
companheiro, o agente do DETRAN, Diógenes Samaritano da Silva.
Ambos os casos tiveram grande repercussão na mídia local e
do Estado, porém, apenas o segundo teve como resultado a prisão do acusado.
Quanto ao primeiro, em que teve como vítimaSindicléia de Carvalho, a
família da vítima ainda clama por justiça.
Sões físicas, tentativas de feminicídio e até feminicídios
consumados. A equipe de reportagens do Portal Pebinha de Açúcar
entrevistou com exclusividade a delegada Ana Carolina Abreu,
titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM),
para entender melhor como tem se comportado os homens em relação às mulheres em
Parauapebas.
“Talvez não seja a violência que tenha aumentado, mas,
sim, o número de mulheres que tem se encorajado a denunciar os agressores. Isso
acontece com o aumento da informação, pois, muitas mulheres ainda não sabem
seus direitos ou não acreditam na solução do problema”, explica Ana
Carolina, dando por certo que a melhor arma disponível para as mulheres é a
informação a respeito dos seus direitos; o que, ainda segundo a delegada,
encorajam a denunciar os agressores. Mas, a delegada aponta como
problemática o fato de que a polícia trata a consequência da violência
doméstica e não a causa. Segundo ela a sociedade patriarcal continua impondo
que a mulher é uma propriedade do homem, não sendo um indivíduo de direito e
sim um objeto que deve se sujeitar a qualquer coisa, podendo inclusive
tirar-lhe a vida. “Então, assim que a denúncia chega à DEAM, o que a
gente faz? Retira a mulher do ciclo da violência dando uma oportunidade para
ela se refazer. Mas, o causador da violência permanece violento, pois, a gente
não tem um trabalho educativo e social com ele. Assim, ele continua fazendo
mais vítimas, sendo elas a namorada ou a próxima esposa que ele arranjar”,
conta Ana Carolina, dando por certo que o machismo não sendo
tratado o ciclo da violência se repetirá.
Perguntamos a ela de onde se origina o machismo dos
indivíduos. Ela explicou que, quase sempre, o homem violento foi criado em um
lar onde via o pai era agressivo com a esposa, e que o mesmo foi criado fendo o
avô também agredindo a companheira, e isso faz com que o indivíduo pense tem um
comportamento correto, apesar de inadequado para o momento em que vivemos.
Ao perguntar como tratar esse tipo de comportamento, ela foi
enfática: “Primeiro vamos à causa preventiva, devendo se fazer um
trabalho com nossas crianças; pois, sabemos que reproduzimos o que vemos ao
nosso redor, infelizmente, até mesmo a violência. Assim, através de ações
afirmativas que são palestras e conscientização que mostre às nossas crianças o
que é o respeito. Assim, vamos combatendo o machismo que é uma violência
opressora que tenta colocar o homem em uma situação de superioridade em relação
à mulher. Assim, um garoto que vive em uma casa onde vê o pai se portando como
superior à mãe, provavelmente ele vai repetir isso em seus relacionamentos”.
Mas, quando aos que já são adultos e praticam o machismo, a
delegada explicou ser preciso combater de forma repressiva; porém, reconhece
que o sistema penitenciário não trata ninguém. De acordo com a delegada Ana
Carolina, é preciso implantar em Parauapebas grupos de homens com histórico
da prática de machismo, a exemplo da Associação dos Alcoólicos Anônimos, onde
através de conscientização, apoio e educação possibilite muitos homens mudarem
de comportamento em relação às mulheres. “Isso serve como medida
protetiva de urgência e medida restritiva de direito. A gente sabe que a
maioria das penas aplicadas nas condenações às violências é apenas restritiva,
sendo que poucos agressores chegam a serem encarcerados com condenação. Então,
ao invés dele doar cestas básicas ou pintar muros, o melhor é obriga-lo a
frequentar cursos, palestras, grupos etc. e depois que ele aprender sobre o
respeito à mulher, ele ter que reproduzir o que aprendeu indo às escolas
ensinar isso, propagando tudo o que aprendeu”, orienta Ana Carolina,
dando por certo que o mesmo homem recuperado deva formar grupos de homens com
históricos de agressão ou condenado pelo citado ato e assim ser um orientador
ou palestrante, com objetivo de recuperá-los. Isso, na opinião da delegada, é
uma medida repressiva. Os casos de violência
doméstica, de acordo com os dados da DEAM, não são uma exclusividade de alguma
classe social; sendo que o machismo está permeado em todas as camadas e
independe de grau de escolaridade. Porém, segundo a delgada Ana Carolina, os
casos ocorridos em família com vulnerabilidade social são os que mais chegam à
delegacia. “As mulheres de homens com melhor condição financeira ou
mulheres com mais instrução escolar procuram resolver os casos sem exposição,
pois, pensam ter muito a perder tanto em posição social quanto a bens que tem a
repartir e isso a faz apanhar calada”, explica a delegada, recomendando que
as mulheres agredidas precisam se encorajar e procurar a DEAM, onde ela será
orientada a respeito dos trâmites e medidas protetivas de urgência.
Caso a mulher agredida não queira procurar a Delegacia Especializada
no Atendimento à Mulher (DEAM), pode procurar a Secretaria Municipal da Mulher
(SEMMU), onde há equipe da Rede Protetiva de Atendimento com psicólogo e
assistente social para ajudá-la a tomar a direção correta. Ana Carolina garante
que a DEAM está sempre de portas abertas para acolher as mulheres vítimas de
violência doméstica e, depois que ela procurar a delegacia, nunca mais às
deixarão sozinhas. “Não adianta a mulher retirar a queixa contra o
marido agressor, pois, todas as promessas de mudanças feitas por ele não
durarão muitos dias. Enquanto ele não for curado do machismo e do modelo
patriarcal e a violência voltará a acontecer”, assegura Ana Carolina.
Ações da sociedade
Mas, enquanto os gêneros não se entendem; os machistas não
se curam; e uma geração de homens conscientes não surge; grupos de pessoas se
unem para realizar atos públicos com o objetivo de levar conscientização a
homens e mulheres.
Um desses exemplos foi a “Caminhada Contra O
Feminicídio e Violência Doméstica” que foi realizada em
Parauapebas no último sábado (11) pelo Instituto Mulheres Girassol em
parceria com diversos órgãos, entidades e o poder público; quando saíram em
caminhada do Bambuzal da PA-275, entrando pela Rua do Comércio, Rua Rio de
Janeiro, Rua 16, Rua ‘E’ e encerrando na Praça de Eventos, onde houve palestras
e distribuição de panfletos.
De acordo com a presidente da diretoria provisória do
Instituto, Enildes Pereira de Melo, o ato teve como objetivo chamar
a atenção para os altos índices de violência contra as mulheres, atos que
ocorrem em todas as regiões brasileiras e em todas as camadas sociais. “Não
existe um perfil de homem agressor; sendo encontrado em todas as profissões,
raças e potencial financeiro. Por isso, é um mal mais difícil de ser combatido”,
detalha Enildes.
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