
Publicado em 20 de outubro de 2019
BRASIL
Obras federais paralisadas no Brasil: o mapa do desperdício

Série de reportagens que serão publicadas no Blog do Zé Dudu
revelam que há mais de 14 mil obras paralisadas no A má gestão pública
(municipal, estadual e federal), projetos deficientes e interrupção do fluxo
financeiro são três das principais causas que empurraram o Brasil para as
últimas posições do ranking que avalia se os países são eficientes, promissores
e atrativos. O cenário de desperdício no Brasil, ao que até agora se sabe, soma
um gasto de R$ 144 bilhões de recursos federais em 14 mil obras, todas
paralisadas. É, com folga, um valor muito superior ao déficit da Previdência
Social, que se não equacionado, levará o Brasil à falência.
A paralisação dessas obras ajuda a explicar alguns dos
motivos da estagnação econômica, atividade industrial em baixa, desemprego em
alta, redução de investimentos privados, desânimo de empreendedores, juros
altos, insegurança jurídica e descrédito dos governos nas três esferas do
poder: municipal, estadual e federal. E quem paga a conta é o contribuinte
brasileiro. Mas o sofrimento maior é o da parcela de baixa renda, embora o
andar de cima não esteja otimista com o futuro, a continuar o atual cenário.
“A falta de planejamento, de metodologia e ferramentas de
administração modernas é, sem dúvida, uma praga na lavoura do Estado
brasileiro. O Governo Federal não tem um mecanismo de acompanhamento e
monitoramento das obras no Brasil, portanto, não há informações da quantidade
exata de empreendimentos parados. Esse quadro prejudica a prestação de serviços
de qualidade à sociedade e resulta na ineficiência da aplicação de recursos
públicos,” disse nesta quarta-feira (16), em entrevista exclusiva ao Blog do Zé
Dudu, o deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG), primeiro coordenador e
atual relator da Comissão Externa destinada a acompanhar e monitorar a
Conclusão das Obras Públicas paralisadas e inacabadas no país (CEXOBRAS), na
Câmara dos Deputados, um dia após o lançamento do livro “Obras Paradas: Entrave
para o Desenvolvimento do Brasil”, em concorrida cerimônia no Salão Verde da
Casa, com direito a autógrafos do autor. Brasil, envolvendo um gasto de R$ 14 Caixa
de Pandora
A saga para abrir essa caixa de pandora teve início após a
criação da comissão externa por Ato da Presidência da Câmara dos Deputados, em
1° de março de 2016 — portanto, na legislatura passada. Embora o colegiado não
seja permanente, não tem data para ser dissolvido; este é composto por 17
deputados, um presidente e um relator. Lamentavelmente, nenhum deputado federal
da bancada paraense é membro da comissão, mesmo o estado sendo detentor de
centenas de obras importantíssimas que se encontram paralisadas – algumas delas
há mais de três décadas, como é o caso das rodovias federais BRs 230 e 163 que
cortam o Pará de Leste a Oeste e de Sul a Norte. Duas obras cruciais para o
desenvolvimento do estado, que só há alguns meses foram retomadas pelo atual
governo, em cumprimento a uma promessa de campanha do então candidato Jair
Bolsonaro.4 bilhões Publicado em 20 de outubro de 2019
BRASIL
Obras federais paralisadas no Brasil: o mapa do desperdício
Série de reportagens que serão publicadas no Blog do Zé Dudu
revelam que há mais de 14 mil obras paralisadas no Brasil, envolvendo um gasto
de R$ 144 bilhões
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Por Val-André Mutran – de Brasília
A má gestão pública (municipal, estadual e federal),
projetos deficientes e interrupção do fluxo financeiro são três das principais
causas que empurraram o Brasil para as últimas posições do ranking que avalia
se os países são eficientes, promissores e atrativos. O cenário de desperdício
no Brasil, ao que até agora se sabe, soma um gasto de R$ 144 bilhões de
recursos federais em 14 mil obras, todas paralisadas. É, com folga, um valor
muito superior ao déficit da Previdência Social, que se não equacionado, levará
o Brasil à falência.
A paralisação dessas obras ajuda a explicar alguns dos
motivos da estagnação econômica, atividade industrial em baixa, desemprego em
alta, redução de investimentos privados, desânimo de empreendedores, juros
altos, insegurança jurídica e descrédito dos governos nas três esferas do
poder: municipal, estadual e federal. E quem paga a conta é o contribuinte
brasileiro. Mas o sofrimento maior é o da parcela de baixa renda, embora o
andar de cima não esteja otimista com o futuro, a continuar o atual cenário.
“A falta de planejamento, de metodologia e ferramentas de
administração modernas é, sem dúvida, uma praga na lavoura do Estado
brasileiro. O Governo Federal não tem um mecanismo de acompanhamento e monitoramento
das obras no Brasil, portanto, não há informações da quantidade exata de
empreendimentos parados. Esse quadro prejudica a prestação de serviços de
qualidade à sociedade e resulta na ineficiência da aplicação de recursos
públicos,” disse nesta quarta-feira (16), em entrevista exclusiva ao Blog do Zé
Dudu, o deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG), primeiro coordenador e
atual relator da Comissão Externa destinada a acompanhar e monitorar a
Conclusão das Obras Públicas paralisadas e inacabadas no país (CEXOBRAS), na
Câmara dos Deputados, um dia após o lançamento do livro “Obras Paradas: Entrave
para o Desenvolvimento do Brasil”, em concorrida cerimônia no Salão Verde da
Casa, com direito a autógrafos do autor.
Caixa de Pandora
A saga para abrir essa caixa de pandora teve início após a
criação da comissão externa por Ato da Presidência da Câmara dos Deputados, em
1° de março de 2016 — portanto, na legislatura passada. Embora o colegiado não
seja permanente, não tem data para ser dissolvido; este é composto por 17
deputados, um presidente e um relator. Lamentavelmente, nenhum deputado federal
da bancada paraense é membro da comissão, mesmo o estado sendo detentor de
centenas de obras importantíssimas que se encontram paralisadas – algumas delas
há mais de três décadas, como é o caso das rodovias federais BRs 230 e 163 que
cortam o Pará de Leste a Oeste e de Sul a Norte. Duas obras cruciais para o
desenvolvimento do estado, que só há alguns meses foram retomadas pelo atual
governo, em cumprimento a uma promessa de campanha do então candidato Jair
Bolsonaro. De acordo com o deputado Zé Silva, a comissão externa priorizou o
foco do trabalho em cinco objetivos concretos:
Identificar e catalogar as obras paradas;
Criar um sistema de cadastro único de obras;
Identificar os motivos que levaram à paralisação do
empreendimento;
Identificar as boas práticas e as ruins para, a partir
desses levantamentos, elaborar um guia e disponibilizá-lo ao poder público como
ferramenta de gestão;
Promover uma revisão do arcabouço legal da legislação
brasileira, principalmente para resolver esse descasamento entre o orçamento e
o planejamento.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), em 2018 foram
identificadas 14.403 obras paradas em todo o país. Nelas, já foram gastos R$ 70
bilhões, mas ainda seriam necessários mais R$ 40 bilhões para finalizá-las.
Todo o Orçamento de Infraestrutura para este ano é de R$ 24 bilhões; em 2020
serão apenas R$ 19 bilhões.
“Ninguém sabia quantas obras paradas existiam no Brasil
quando começamos a comissão externa em 2016,” observou Zé Silva. Diferentes
estimativas foram dadas ao longo do trabalho da comissão. “Falou-se em 2 mil, 7
mil e depois 14,4 mil. Mas trata-se de uma estimativa [do TCU],” disse.
Segundo Zé Silva, desde a criação da comissão externa, os membros
do colegiado promoveram debates e audiências públicas, assim como visitas às
obras paradas. “Também estudamos acórdão do TCU e outros documentos de variados
órgãos federais,” explicou.
Órgãos Públicos – Acompanhamento de Obras – TCU da Caixa
Econômica Federal (CEF) – abril/2018;
Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle do
Ministério da Educação (MEC) – abril/2018;
Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – abril/2018;
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) –
fevereiro/2018;
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(DNIT) – abril/2018.
Pela natureza dos bancos de dados, observa-se que foram
analisadas várias tipologias diferentes, com formas de investimentos diferentes.
Foi analisado também o banco de dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) que, da mesma forma que o DNIT, tem ferramentas informatizadas
importantes para a gestão dos recursos repassados aos estados e municípios para
aquisição de equipamentos e obras. No entanto, disse Zé Silva: “Esses sistemas
são somente para consulta interna”.
Medidas imediatas
Com o escopo do problema desenhado, os membros da CEXOBRAS
fizeram os recortes necessários no gigantesco volume de dados apurados e
partiram para a elaboração de propostas de “boas práticas” para compor os
contratos ou convênios federais com estados e municípios.
“Daí surgiu uma ideia ainda mais abrangente: propusemos ao
Governo Federal, por exemplo, a retomada de 20% das menores obras nas áreas de
saúde e educação. Também levamos indicações ao Poder Executivo para que
adotasse medidas efetivas em curto prazo, como ocorreu com duas portarias que
garantiram a retomada de 1,6 mil obras de infraestrutura e evitaram a
paralisação de obras de unidades de saúde,” disse Zé Silva.
A praga onipresente
Além de investir pouco em infraestrutura – apenas 2% do
Produto Interno Bruto (PIB) –, o Brasil joga no ralo um volume significativo
dos recursos aportados no setor, em razão do excesso de obras que são
interrompidas antes da entrega. As paralisações consomem recursos sem gerar
benefícios para a sociedade e são, em geral, consequência de falhas na forma
como o setor público executa seus projetos. As conclusões são do estudo
“Grandes obras paradas: como enfrentar o problema”, elaborado pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI). O trabalho integra uma série de 43 documentos
sobre temas estratégicos que a CNI entregou aos candidatos à Presidência da
República há mais de um ano atrás, em julho de 2018.
De acordo com números obtidos pela CNI junto ao Ministério
do Planejamento, 2.796 obras estão paralisadas no Brasil, sendo que 517 (18,5%)
são do setor de infraestrutura. A área de saneamento básico lidera o ranking,
com 447 empreendimentos interrompidos durante a fase de execução. Na sequência,
aparecem obras de rodovias (30), aeroportos (16), mobilidade urbana (8), portos
(6), ferrovias (5) e hidrovias (5). As obras paradas de infraestrutura já
custaram R$ 10,7 bilhões e não trouxeram nenhum retorno para a sociedade.
O estudo aponta que, entre as principais razões para a
interrupção de obras, estão problemas técnicos, abandono pelas empresas e
dificuldades orçamentárias/financeiras. A CNI recomendou seis medidas para que
o país evite paralisações e atrasos: (1) melhorar o macroplanejamento, (2)
avaliar qual modalidade de execução é a mais adequada; (3) realizar
microplanejamento eficiente; (4) aparelhar melhor as equipes; (5) desenhar
contratos mais equilibrados; e (6) fortalecer o controle interno.
“É recorrente o problema da paralisação de obras. O país
parece incapaz de aprender com todos os levantamentos, perdas e conflitos que
esse processo gera,” afirma o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José
Augusto Fernandes, ao Blog do Zé Dudu na abertura do 11º Encontro Nacional da
Indústria (ENAI), grande encontro da indústria nacional que ocorre a cada dois
anos em Brasília. “Por mais urgente que seja encontrar soluções para as obras
paradas, também é preciso atenção com programas e metas direcionados à não
repetição dos mesmos erros no futuro,” acrescenta ele.
José Augusto Fernandes observa que a paralisação das obras
nunca é a melhor solução por representar perdas duplas para a sociedade –
recursos públicos desperdiçados e empreendimentos não entregues para o uso da
população. “Os prejuízos para consumidores e empresas são enormes, o mesmo
acontecendo com o setor público, uma vez que se tratam de projetos que
consumiram e continuam a absorver vultosos recursos públicos, sem gerar
contrapartidas,” enfatiza o diretor da CNI.
No Acórdão TCU 1079/2019, o último levantamento das obras
paralisadas no país é muito mais abrangente do que o apurado pela CEXOBRAS e
pela CNI. De acordo com os registros que constam nos bancos de dados da CAIXA,
PAC, SIMEC 2.0, SIMEC SESU, SIMEC SETEC, DNIT e FUNASA, num total de 38.412
obras paralisadas, o governo investiria quase R$ 725 bilhões (exatos R$
725.456.451.626,74). Essa montanha de dinheiro está parada, e só nas obras do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), 91,11% foram executados,
correspondendo apenas a 27,77% do total planejado. “É uma tragédia,” define o
deputado federal Zé Silva.
Veja quadro abaixo:
Quantidade de obras por banco de dados (Fonte: TCU)
Causas da paralisação
A praga onipresente das obras paralisadas no Brasil também é
origem de outra chaga nacional: a corrupção. A ocorrência desse mal se infiltra
nas grandes obras de infraestrutura, mas também se alastrou em pequenas
reformas – numa escola do interior, Brasil afora, em administrações corruptas
de prefeitos marginais e governadores ainda piores. “São os assassinos da
esperança dos brasileiros,” sussurra a voz quase inaudível dos contribuintes
brasileiros.
O ministro do TCU, Bruno Dantas, comentou sobre a responsabilidade
do Judiciário e dos tribunais de contas nessa Odisseia nacional. “Como o
ministro-presidente ressaltou, muitas vezes, levamos a culpa por uma
responsabilidade que não é do Judiciário ou dos tribunais de contas. Os números
do TCU revelam que apenas 3% das obras paralisadas no país se devem a isso. Os
dados mostram que, na maioria das vezes, as falhas estão concentradas em três
aspectos: projetos deficientes, interrupção do fluxo financeiro e problemas na
gestão municipal”.
Pelo levantamento, mais de 75 mil vagas de creches do
Programa Pró-Infância deixaram de ser entregues em razão de obras paralisadas,
assim como 192 unidades básicas de saúde. “Fizemos levantamentos, cruzamos os
dados e, a partir de agora, temos de buscar soluções e apresentar uma agenda
para o Congresso Nacional, governadores e prefeitos,” disse.
Segundo o presidente da Associação dos Membros dos Tribunais
de Contas do Brasil (Atricon), Fábio Nogueira, com o apoio dos presidentes dos
tribunais de contas do país, o levantamento da entidade foi realizado no
período de 2009 a 2019 e apontou cerca de 2.555 obras paralisadas, com valores
a partir de R$ 1,5 milhão, com recursos no total de R$ 89 bilhões. “O TCU, na
última semana, julgou o Acórdão 1079/2019, que também aponta para números
expressivos, com mais de 14 mil obras paralisadas e recursos de R$ 144
bilhões,” reforçou.
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