Um desentendimento durante uma aula do curso de Ciências Sociais no campus da Universidade do Estado do Pará (Uepa) em Igarapé-Açu, nordeste do Pará, virou caso de polícia na última quarta-feira (24). Um professor, coordenador do curso, teve a aula interrompida, depois que uma aluna se retirou alegando ter sido hostilizada e acionou o pai, que estava acompanhado de policiais militares.O G1 tenta contato com a aluna.
A instituição informou nesta sexta-feira (26) que está apurando as circunstâncias da ação policial ocorrida, a fim de adotar providências legalmente cabíveis.
O professor Mário Brasil Xavier ministrava um minicurso em forma de oficina sobre a produção de artigos científicos na universidade, utilizando de slides e imagens. Durante a explanação, uma das alunas começou a tirar fotografias dos slides. O professor disse, então, que disponibilizaria o conteúdo para todos em uma plataforma online. A estudante, segundo ele, mesmo assim insistiu em fotografar e ele decidiu comentar: 'a não ser que vocês queiram tirar fotos minhas e utilizarem para criar fake news', o que como disse o professor deveria ter a autorização dele por uso da imagem.
Após o comentário, a estudante se retirou da sala, dizendo ter se sentido hostilizada. No entanto, o professor Mário afirmou que não sabia que colegas da estudantes estariam fazendo críticas ao posicionamento político dela em relação às eleições presidenciais.
"Somente depois de toda a confusão que eu soube que ela chegou a receber alguns comentários nas redes sociais por questões políticas, mas eu não tinha noção disso".
Xavier contou que, no intervalo da aula, um técnico da universidade apareceu para avisar que a estudante havia acionado o pai até a instituição e junto com eles vieram quatro agentes da Polícia Militar, fortemente armados, no intuito de iniciar uma ocorrência policial. "Eu tentei dialogar, pois não havia feito nenhuma brincadeira de mau gosto em direção à ela, mas falei para a turma como um todo. Expliquei que não sabia do ocorrido com os colegas dela. Mas os policiais insistiram em me levar para a delegacia para prestar depoimento, o que recusei pois só sairia dali acompanhado de advogado e de representantes do sindicato da minha categoria". Após isso, o professor disse que os policiais mudaram a abordagem e a estudante retirou o tom acusador.
A Uepa disse em nota que a gestão superior do campus, a procuradoria jurídica, a coordenação, o professor Mário Xavier e o Sindicato de Docentes da Uepa (Sinduepa), reuniram na manhã de sexta e decidiram subsidiar providências para serem tomadas interna e externamente pela instituição. A Uepa disse ainda que "reafirma seus valores institucionais, sobretudo os de princípios humanitários, e repudia a vivência de qualquer outra cultura que cerceie direitos, gere constrangimentos e agressões contra a comunidade acadêmica".
Ocorrências
A PM informou em nota que os militares estiveram no campus para averiguar a denúncia de coação e insultos, que teriam sido sofridos por Beatriz Monteiro Coelho. Segundo a PM, após obterem informações preliminares, os policiais orientaram que a estudante registrasse a denúncia na delegacia, para que fosse instaurado um inquérito policial.
De acordo com o Comando de Policiamento Regional 3, sediado em Castanhal, a estudante registrou a ocorrência por volta das 17h30 de quarta, e disse, em depoimento, que foi insultada por outros estudantes e oprimida pelo professor. Segundo a PM, ela disse ainda que há dias tem sido coagida por outros estudantes.
Quanto à suposta coação ou possível desvio praticado por policiais militares contra o professor Mário Brasil ou qualquer estudante, a PM disse que orienta que seja registrado um boletim de ocorrência ou formalizada uma denúncia na Corregedoria da Corporação no objetivo de se apurar os fatos devidamente.
A Polícia Civil informou que um boletim de ocorrência já foi registrado na quinta (25) pelo professor Xavier na Seccional de São Brás, em Belém, e que deve ser encaminhado para a Delegacia de Igarapé-Açu.
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