Bolsonaro terá prazo curto para manter lua de mel com o mercado, dizem analistas
Com promessa de governo reformista, presidente eleito terá de ser rápido ao apresentar as medidas para o O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) terá um prazo bastante curto, de poucos meses, para convencer o mercado e os investidores de que conseguirá realizar o ajuste fiscal e resolver os problemas das contas públicas ao longo dos próximos quatros anos, segundo economistas ouvidos pelo G1.
Durante a disputa eleitoral, a campanha de Bolsonaro adotou um discurso liberal avalizado por Paulo Guedes, escolhido pelo presidente eleito para comandar a área econômica do governo.
Com a definição do segundo turno, no início de setembro, o candidato do PSL passou a ser o preferido do mercado e ganhou o benefício da dúvida dos investidores ao se comprometer com um ajuste fiscal clássico, com corte de gastos e privatizações. A plataforma de Fernando Haddad (PT), mais intervencionista, era vista com ressalva pelo mercado financeiro.
Mas a lua de mel entre o futuro governo e o mercado pode ter prazo de validade.
“O mercado não vai dar muito tempo. É um governo que tem de chegar chegando”, afirma a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.
Na campanha, Bolsonaro prometeu fazer a reforma da Previdência, cortar gastos do governo, privatizar estatais e zerar o déficit primário já no primeiro ano de governo. Na véspera, Guedes disse em entrevista que a reforma da Previdência será o "primeiro grande item" do modelo econômico do novo presidente.
“O tempo será curto para o Bolsonaro porque também haverá o choque de realidade de como funciona o Congresso para tanta gente nova que lá chega”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
Previdência é o sinal
O principal sinal observado pelo mercado será a condução da reforma da Previdência. Embora os benefícios fiscais de uma reforma só sejam sentidos no longo prazo, as alterações previdenciárias vão enviar um importante sinal ao mercado sobre o comprometimento com o ajuste fiscal.
“A Previdência é o primeiro item da lista. Se em seis meses o governo não encaminhar uma reforma, o mercado deve penalizar a economia brasileira”, afirma Alessandra, da Tendências.
Nesta segunda-feira (29), a agência de classificação de risco Moody's disse em relatório que as reformas continuam incertas com a eleição de Bolsonaro, por conta do Congresso fragmentado.
Já o acerto das contas públicas se tornou fundamental para que os investidores mantenham a confiança na solvência da economia brasileira. Sem ele, a percepção de risco do Brasil pode piorar, provocando uma fuga de investidores, uma desvalorização do câmbio e consequente impacto para inflação e juros.
“Esse ambiente macroeconômico de baixa inflação e Selic vai sendo ameaçado a cada dia que a reforma da Previdência não sai”, afirma a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.
Os sinais também terão de ser rápidos diante do ambiente internacional mais complicado. As principais economias do mundo estão subindo os juros, o que tem potencial para atrair recursos aplicados no Brasil para destinos considerados mais seguros – e fazer faltar escassear recursos por aqui.
O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), já subiu os juros três vezes neste ano e deve promover mais uma alta. Em 2019, planeja aumentar mais três vezes.
“Faz tempo que o mercado está dando esse benefício da dúvida ao Brasil É preciso tomar cuidado para o caso de ocorrer uma virada no cenário internacional”, afirma Zeina.
Governo Bolsonaro não deve zerar déficit
As projeções da consultoria Tendências para o governo Bolsonaro indicam que a nova administração terá dificuldade para zerar o déficit das contas públicas não só no primeiro ano, mas em todo o mandado.
A expectativa da consultoria é que em 2022 o déficit primário caia para 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB). “Não é fácil. Essa projeção de déficit ainda leva em conta o projeto de reforma da Previdência apresentado pelo governo Temer”, diz Alessandra.Na previsão da consultoria, o governo Bolsonaro deve ter R$ 50 bilhões em receitas extraordinárias para ajudar nas contas públicas, mesmo com todas as promessas de privatizações, e deve ver um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,4% entre 2019 e 2022.
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