Juiz abre
ação penal contra Lula, Dilma, Palocci, Mantega e Vaccari; PT vê 'perseguição
judicial’.
Eles
passarão a responder como réus por suspeita de organização criminosa. Na
denúncia, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot apontou Lula como líder do
suposto esquema.
O juiz
Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, recebeu denúncia e
abriu ação penal por suposta organização criminosa envolvendo integrantes da
cúpula do PT. Passam a serem réus na ação os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Rousseff, os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega, além
do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
O caso é
conhecido como "quadrilhão do PT", porque se originou de um inquérito
no quais integrantes de diversos partidos eram investigados por organização
criminosa, .
O que
dizem os acusados
O PT
divulgou nota na qual aponta "perseguição judicial" e afirma
que ação penal é "resultado de um delírio acusatório do
ex-procurador-geral Rodrigo Janot, sem qualquer base na lei". De acordo
com o partido, "quem vem atuando como verdadeira organização fora da lei
no país, já há alguns anos, são setores partidarizados do Ministério Público e
do sistema judicial" (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).
O advogado
Cristiano Zanin, que defende Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou em
nota que a ação é "manifestamente descabida" e que o ex-presidente
não cometeu nenhum crime no exercício da Presidência. "A acusação também
atenta contra padrões jurídicos elementares e contra o Estado de Direito ao
pretender atribuir a Lula e a pessoas que participaram de seu governo a prática
de crime de organização criminosa em período anterior a 2013, quando o delito
sequer tinha previsão legal", diz a nota (leia a íntegra ao final desta
reportagem).
Em nota, a
assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que a
decisão do juiz Vallisney Oliveira "está baseada numa tentativa clara de
criminalização da política e do PT". Segundo a nota, "a denúncia é
genérica e as acusações não derivam de inquéritos ou de qualquer investigação
prévia" (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).
O advogado
Fábio Tofic, que integra a defesa de Guido Mantega, disse que
também não vai comentar. "Não fomos comunicados da decisão, vamos aguardar
para dar qualquer manifestação", afirmou o advogado.
O advogado
Tracy Joseph Reinaldet afirmou que Antonio Palocci vai
colaborar com a Justiça durante o processo.
Em nota, o
advogado de João Vaccari Neto, Luiz Flávio Borges D’Urso, afirmou
que ele jamais integrou organização criminosa e que irá demonstrar isso durante
o processo. Informou ainda que todas as doações destinadas ao PT enquanto ele
era tesoureiro do partido são legais e declaradas à Justiça.
Lula, Dilma,
Palocci, Mantega e Vaccari viram réus na Justiça Federal do DF
A denúncia
Em setembro
do ano passado, antes de deixar o cargo, o então procurador-geral da República
Rodrigo Janot denunciou
ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de organização
criminosa, além de Lula e Dilma, os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antônio
Palocci, do Planejamento Paulo Bernardo, de Comunicação Social Edinho Silva, o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e a senadora Gleisi Hoffmann, que
atualmente ocupa a presidência do PT.
Janot
afirmou na denúncia que a cúpula do PT recebeu R$ 1,48 bilhão de
propina em dinheiro desviado dos cofres públicos.
Em março
deste ano, o relator da Lava Jato, ministro Luiz Edson Fachin, dividiu
o processo e enviou a parte dos políticos sem foro privilegiado
para a Justiça Federal de o Distrito Federal prosseguir com o caso.
Somente
Gleisi Hoffman e o marido, Paulo Bernardo, permaneceram como investigados no
Supremo. A denúncia sobre Edinho Silva foi enviada para o Tribunal Regional
Federal da 3ª Região.
O juiz
Vallisney Oliveira considerou a denúncia "idônea e formalmente apta"
e determinou que os cinco réus fossem intimados a apresentar defesa por escrito
no prazo de 15 dias.
No último dia
13, o
Supremo julgou um recurso que confirmou o prosseguimento do caso na primeira
instância. Isso permitiu que o juiz, agora, analisasse a denúncia e
desse andamento ao caso.
O juiz
Vallisney Oliveira afirmou que, segundo a acusação, os réus integraram
organização criminosa no PT, "tendo sido cometidos diversos crimes contra
a administração pública (entre os quais corrupção) e lavagem de dinheiro
relacionados com o Ministério de Minas e Energia, Petrobrás, Construtoras
Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e UTC, e J&F/BNDES".
Lula, Palocci e Vaccari atualmente
cumprem pena de prisão por causa de outros processos da Lava Jato.
PGR vê
Lula como líder
Na denúncia
feita pela PGR no ano passado, Rodrigo
Janot afirmou que Lula “foi o grande idealizador da constituição
da presente organização criminoso” e pediu que o ex-presidente tivesse pena
maior do que os demais por ser o líder da organização criminosa.
Janot disse
que Lula era a grande liderança do núcleo político da organização criminosa,
inclusive depois que deixou a Presidência da República, devido à forte
influência que tinha sobre a ex-presidente Dilma.
“Nesse
sentido, Lula, de 2002 até maio de 2016, atuou diretamente na negociação
espúria em torno da nomeação de cargos públicos com o fim de obter de forma
indevida o apoio político necessário junto ao PP e ao PMDB para que seus
interesses e do seu grupo político fossem acolhidos no âmbito do Congresso
Nacional”.
No último dia
31 de outubro, o
Ministério Público Federal pediu à Justiça que o ex-presidente
Lula deixe de responder pelo crime de organização criminosa em outra ação
penal, na qual ele e outros 10 foram acusados de favorecer a Odebrecht na
liberação de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) para obras em Angola. O caso se refere à Operação Janus.
Ao receber a
denúncia contra Lula e mais quatro no caso do quadrilhão do PT, o juiz Vallisney
adiantou que vai aceitar o pedido do MP e extinguir a acusação no caso da
Operação Janus. Isso porque, segundo ele, o Código Penal impede que alguém seja
acusado por dois crimes idênticos. O juiz afirma que essa questão será
resolvida na ação penal da Janus.
Ações
contra Lula
Com a decisão
desta sexta-feira, Lula passa a ser réu em seis ações penais:
O
ex-presidente já foi absolvido em uma ação e condenado no caso do tríplex em
segunda instância. Lula também foi denunciado em outro caso, mas ainda não virou
réu.
Atualmente,
cumpre pena em Curitiba por conta da condenação, que ainda tem recursos
pendentes. Nesta sexta, o STJ rejeitou um recurso, mas a defesa ainda pode
recorrer.
As seis ações
penais às qual Lula responde são as seguintes:
Réu em ação
penal sobre tráfico de influência no BNDES para beneficiar a Odebrecht
Réu em ação
penal por tráfico de influência na Operação Zelote juntamente com o filho Luís
Cláudio
Réu em ação
acusado de negociar propina em troca de uma medida provisória que prorrogou por
cinco anos benefícios tributários destinados a empresas do setor
automobilísticos
Réu em ação
penal na Justiça do Paraná por suspeita de pagamento de propina da Odebrecht;
envolve a compra de um terreno para a construção da nova sede do Instituto Lula
e um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo.
Réu em ação
sobre se é dono de sitio em Atibaia reformado por empreiteiras e se dinheiro recebido
de palestras era propina disfarçada
Réu por
organização criminosa, juntamente com outros integrantes do PT, sobre se
participou de organização criminosa para fraudar a Petrobras. Foi denunciado
pela PGR, e denúncia foi ratificada na primeira instância.
Há ainda uma
ação na qual o ex-presidente foi denunciado pela PGR por supostamente ter sido
beneficiado pela construtora Odebrecht. A empreiteira teria prometido a Lula em
2010 – e colocado à disposição do PT – R$ 64 milhões em troca de decisões do governo
que favorecessem a empresa. A Justiça ainda não decidiu se abre ou não ação
penal contra o petista.
Nota do PT
Leia abaixo a
íntegra de nota divulgada pelo PT sobre a abertura da ação penal:
Nota do
PT: Partido enfrenta perseguição judicial fora da lei
A ação
iniciada hoje (23/11), pela 10a Vara Federal do Distrito Federal, contra os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de
ex-dirigentes do PT, não se sustenta em fatos nem provas. É o resultado de um
delírio acusatório do ex-procurador-geral Rodrigo Janto, sem qualquer base na
lei. Esta ação, que não prosperou no STF, foi desdobrada para a primeira
instância em decisão definitiva de 14 de novembro, e o juiz decidiu aceitá-la
apenas pouco mais de uma semana.
Diferentemente
do que afirma levianamente a acusação e do que foi aceito pelo juiz, o PT é um
partido político constituído legalmente há 38 anos; o maior partido do país
pela vontade dos eleitores, com uma trajetória de serviços prestados à
democracia, ao Brasil e ao nosso povo. Um partido que, no governo, tirou 36
milhões de pessoas da miséria, acabou com a fome, criou 20 milhões de empregos,
tornou o Brasil respeitado em todo o mundo e combateu a corrupção como nenhum
outro governo.
Quem vem
atuando como verdadeira organização fora da lei no país, já há alguns anos, são
setores partidarizados do Ministério Público e do sistema judicial, que
perseguem o PT e suas lideranças com acusações sem pé nem cabeça, com o
objetivo de criminalizar o partido. Trabalham cotidianamente para excluir o PT
da vida política brasileira, valendo-se de mentiras e do abuso de poder. Comete,
em conluio organizado e hierarquizado, um crime contra a democracia, contra o
direito de livre organização política.
Estes
setores, com a cumplicidade da Rede Globo e da grande mídia, repetem contra o
PT o que a ditadura fez contra os partidos de oposição. E parecem emulados pelo
resultado eleitoral, colocando em prática o ódio ao PT pregado por Jair
Bolsonaro. Em apenas três semanas depois das eleições, Dilma Rousseff e nosso
candidato Fernando Haddad foram tornados réus em ações esdrúxulas e sem
fundamento. O nome do PT foi envolvido sem provas em duas novas operações da
Lava Jato. E, além disso, as ações levianas contra Lula foram mantidas sob
controle da colega substituta de Sergio Moro, numa escandalosa manobra.
Os novos
ataques judiciais ao PT ocorrem ao mesmo tempo em que a Procuradoria-Geral da
República propõe o arquivamento de ação contra o atual ministro Moreira Franco,
um das cabeças do golpe do impeachment; o arquivamento de ações contra membros
do MDB e do PSDB que estavam no Supremo, e recusa-se a apresentar denúncia
contra Michel Temer; todos esses casos fartamente documentados, ao contrário do
que ocorre nas ações contra o PT.
Querem fazer na marra o que não conseguiram no
voto, pois o PT saiu dessas eleições, mais uma vez, como a maior
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