Escola de Arte da Região Sudeste rega a cultura para
qualificar a luta
Foram 13 dias de debates, estudos e oficinas com 60
participantes de Minas, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
25 de outubr“A gente trabalhou coisas que foram/ trazer a
arte para dentro do conceito da luta, ou ter a arte como forma de pensar
estratégias de resistência”, assim conta Sérgio Pererê, cantor, compositor, um
dos organizadores e educador da II Escola de Artes da Região Sudeste. A grande
maioria dos participantes eram jovens, militantes do MST ou convidados do
Levante Popular da Juventude (LPJ) e do Movimento Pela Soberania Popular na
Mineração (MAM). A Escola foi realizada entre os dias 6 e 18 de outubro, no
Centro de Formação e Cultura Guimarães Rosa, em Belo Horizonte.
O projeto foi uma construção da cantora Titane com o MST.
“São necessárias grandes transformações culturais para que uma nova sociedade
se construa. Esta Escola de Arte tem buscado a reconstrução de uma humanidade
vibrante, reflexiva e criadora que, ao longo do tempo, foi ficando aA
“reconstrução humana” a qual a cantora se refere perpassou todos os momentos,
desde os debates até os espaços de convívio. Durante o seminário de cultura, o
jornalista João Paulo Cunha expôs as intervenções do governo Bolsonaro nas
áreas da arte e da cultura, promovendo, inclusive, mecanismos de censura. Como
exemplo, ele citou os comitês instalados nos fundos de cultura da Caixa
Econômica Federal, no qual alguns funcionários se dedicam a selecionar e
proibir projetos que apresentem crítica ao governo.
Para João Paulo Cunha, a cultura é um campo de fundamentação
de valores. Nesse sentido contribuíram as declarações de Roberto Alvim, diretor
da Fundação Nacional de Artes (Funarte). “Estou aqui para criar uma máquina de
guerra cultural para defender os valores do bolsonarismo”, Roberto Alvim.
Até o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) virou alvo, tendo vários diretores afastados. Em MG, esse órgão cumpre
o papel de, minimamente, proteger algumas cidades consideradas históricas. É o
caso de Congonhas, uma das grandes cidades ameaçadas pela mineração, mas que
guarda a obra de Aleijadinho como patrimônio.
O debate apontou para o surgimento de uma “cultura
bolsonarista”, expressão da barbárie do sistema econômico-político brasileiro
que perpassa a degradação dos direitos, o desemprego, o descrédito da população
com as instituições e até as reações de cunho mais violentas. As palavras e
ações do governo têm buscado fomentar uma cultura que se aproxima do fascismo.
Prova disso é que conteúdos relacionados à questão LGBT, ao gênero, ao racismo,
ao meio ambiente e etc, são os principais objetos de censura.dormecida ou
encurralada dentro de nós”, afirma Titane.o de 2019 15h09Titane e Sérgio Pererê
conduziram as oficinas de formação artística em teatro e música (percussão,
violão, canto, composição, práticas cênico-musicais e artes plásticas), com
ênfase no desenvolvimento de um coro cênico. Ainda foram realizadas oficinas de
literatura e na área da comunicação, como rádio, serigrafia popular e audiovisual.
A escola contou com a participação de 16 orientadores e
espaços de reflexão sobre temas variados: indústria cultural e agronegócio,
economia, política e cultura, a música na história do MST e matrizes culturais
do Brasil. Sérgio Pererê faz um balanço desse processo. “Foi uma experiência
muito poderosa, em vários aspectos. Começando pelo fato de ter um público muito
jovem, o que me dá entender que o movimento está se renovando e se ampliando.
Uma juventude muito atenta, muito musical e muito artística”.
Ele conta que os elementos utilizados para a criação foram a
símbolos da própria luta do movimento. “Tanto a Titane quanto eu não trouxemos
elementos, a gente trabalhou com elementos que já existiam dentro. A gente
trabalhou a música e o corpo o tempo todo junto. A cultura popular, o Boi.
Acabou que durante o processo criou-se um boi maravilhoso, que vai ficar como
um totem de proteção”, Sérgio Pererê.
O encerramento foi no Armazém do Campo BH, com uma
apresentação artística que batizou a Escola com o nome de João das Neves,
dramaturgo que lutou contra a ditadura e contra a censura e ajudou a construir
a I Escola de Artes da Região Sudeste, em 2017. Agora, a missão da turma é
multiplicar os aprendizados realizando oficinas com suas comunidades nos seus
estados.
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