
Liminar manda mineradora declarar situação de emergência em
duas barragens no sudeste do Pará A Justiça Federal em Marabá determinou à
mineradora Vale que declare situação de emergência nas barragens Pondes de
Rejeitos e Captação de Água, localizadas no município de Parauapebas, na região
sudeste do Pará. As duas estruturas, segundo ação ajuizada pelo Ministério
Público Federal (MPF), não dispõem de sistemas eficientes de escoamento de
água, o que pode afetar a estabilidade de ambas em eventual período muito
chuvoso, daí terem sido classificadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM)
entre as dez mais perigosas do país.
Na decisão liminar (veja a íntegra neste link), assinada no
dia 17 de setembro, o juiz federal Heitor Moura Gomes, da 2ª Vara, determina
ainda que a Vale implemente medidas de segurança previstas no Plano de Ação de
Emergência para Barragens (PAEBM) da Pondes de Rejeitos, devendo A Vale também
está obrigada a começar inspeções de segurança especial nas barragens, até a
cessação da situação de emergência, quando as anomalias detectadas serão
classificadas como extintas ou controladas. Em 15 dias, a mineradora terá de
apresentar os comprovantes de contratação das empresas responsáveis pela
confecção dos estudos complementares exigidos na ação proposta pelo MPF, bem
como o respectivo cronograma de execução.
A Justiça Federal determinou ainda que a Vale elabore
estudos e mapas de inundação detalhados, exibindo em gráficos e mapas
georreferenciados as áreas que podem ser inundadas, explicitando as zonas de
autossalvamento e de segurança secundária, com vistas à proteção de unidades de
conservação, áreas indígenas e indicando possíveis impactos ambientais.
comprovar o cumprimento dessa determinação em cinco dias. Em relação à Agência
Nacional de Mineração (ANM), a liminar ordenou que acompanhe a situação das
duas estruturas até o retorno à segurança, com informes ao Juízo da 2ª Vara ao
menos a cada 30 dias. Também deverá ser realizada fiscalização para verificar se
os Planos de Ação das Barragens (PSBs) estão integralmente de acordo com os
preceitos legais e regulamentares e da implementação das medidas previstas no
plano de emergência da Pondes de Rejeito em relação à situação de urgência.
Recomendação – As barragens estão localizadas na Floresta
Nacional (Flona) de Carajás. O reservatório da Pondes de Rejeitos, segundo a
ação do MPF, está com volume de 12 milhões de metros cúbicos, e o da Captação
de Água está com 600 mil metros cúbicos. Somados, têm volume próximo aos 12,7
milhões de metros cúbicos da Barragem 1 da mina do Córrego do Feijão, de
Brumadinho (MG), que se rompeu no início deste ano. Antes de recorrer à
Justiça, o MPF garante ter recomendado à ANM que as barragens fossem
fiscalizadas e que a Vale fosse cobrada a tomar providências necessárias para
garantir a segurança das estruturas. A agência não acatou a recomendação e
sequer enviou representante à reunião em que o tema foi discutido, informou o
MPF.
A ação alega que, em doze anos de operação, encerrada em
2002, a mina do Igarapé Bahia – empreendimento ao qual as duas barragens eram
vinculadas –, produziu quase 100 toneladas de ouro, o equivalente a cerca de R$
16,4 bilhões. O Ministério Público diz que atestados de garantia de
estabilidade das barragens vêm sendo negados por auditorias desde 2016, mas até
agora a Vale limitou-se a pedir licenciamento para realização de obras, sem
mencionar o caráter de urgência. No entanto, continua a ação, em casos de
urgência o licenciamento é desnecessário.
O juiz Heitor Moura Gomes ressalta haver evidências de
defasagem das medidas de segurança e a suspeita de risco do empreendimento
através de pareceres e relatórios emitidos por técnicos que analisaram a
situação da barragem Pondes de Rejeitos, além de documento emitido por uma
engenheira civil, apontando problemas que precisam ser solucionados.
Com relação à Captação de Água da Mina do Igarapé Bahia, o
magistrado diz que existe também indício de risco e necessidade de
providências, conforme se verifica através do parecer técnico, cujas conclusões
informam que a barragem apresenta umidade ou surgência nas áreas de jusante,
paramentos, taludes e ombreiras estáveis e monitorados, além de falhas na
proteção dos taludes e paramentos, com a presença de vegetação arbustiva. Além
disso, a estrutura estaria passando por problemas de instabilidade, conforme
auditoria feita pela empresa Walm em 2016.
Vale se manifesta em nota
“A Vale, em cumprimento a um acordo celebrado com o
Ministério Público do Trabalho (MPT), já havia declarado nível 1 de emergência
para a Barragem de Captação de Água e o Pondes de Rejeitos da unidade Igarapé
Bahia, no município de Parauapebas (PA), em agosto passado. As estruturas estão
paralisadas desde 2002 e são classificadas como de baixo risco pela Agência
Nacional de Mineração. Não há população a jusante das estruturas e o nível 1 de
emergência não exige evacuação da área.
Importante esclarecer que as obras de descaracterização dos
Pondes de Rejeitos já foram iniciadas e têm previsão de término para novembro
próximo. A Vale também já adotou medidas de contingenciamento para a Barragem
de Captação de Água”.
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