Uma educação feita pelo povo, com o povo e para o povo. Essa
é a síntese do método educacional adotado nas escolas públicas do campo,
localizadas em assentamentos e acampamentos do MST, de Norte a Sul do país.
O processo metodológico conecta a realidade vivida no campo
com a escolarização e a luta pela terra. Ou seja, as crianças, jovens e
adultos, homens e mulheres, fazem do conhecimento científico uma chave de
leitura em torno da sua realidade e, de maneira crítica, pensam ações coletivas
que possam melhorá-la.
Para isso, o método, trabalhado como um processo que precisa
dialogar com as distintas realidades de nosso território nacional, não é único
em sua prática, mas possui princípios importantes.
A educadora popular e militante Sem Terra no Estado do
Ceará, Maria de Jesus, afirma que não existe distinção entre o estudar e o
lutar, pois ambas ações fazem parte da construção do sujeito. “Esse processo de
participação na luta social, na luta de classe, é um processo que educa. E a
educação do campo vem para reafirmar a permanência dos sujeitos no campo, com
dignidade, com projeto de campo, contrapondo ao projeto do capital”, explica.
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educar__.Foto_AlineOliveira.jpeg
Maria de Jesus, educadora popular e militante
Sem Terra no Ceará. Foto: Aline Oliveira
Para ela, a educação do campo é uma educação contra
hegemônica ao projeto do agronegócio e tem como objetivo fortalecer a
agricultura camponesa com base na agroecologia e continua: “nesse contexto, a
educação do campo é uma educação emancipatória. É uma educação que forma os
sujeitos do campo e que valoriza o campo nas dimensões culturais, nas suas
lutas, nas suas memórias. A educação do campo é uma educação em movimento. É uma
educação em luta permanente”.
Conhecimento é luta coletivo
Ao dialogar com essas questões e juntar o conhecimento,
enquanto uma síntese do técnico e do político, a militante do setor de educação
em Pernambuco, Rubneuza de Souza, enfatiza ainda que o desenvolvimento das
potencialidades humanas é uma “praxis”. Desse modo, “ao desenvolver o trabalho
também se pensa no que está sendo feito. Nossas metodologias dão conta disso”.
“Nós tomamos a educação como um processo de formação humana
e, além da educação popular, a gente está fundamentado na pedagogia socialista,
que coloca a educação como uma combinação da educação e da instrução, onde a
vida, o trabalho, a luta, fazem parte da construção do que a gente chama de
conhecimento”, afirma Souza.
Já Jesus pontua que o conhecimento, enquanto um alicerce da
formação humana, precisa ser construído a partir de matrizes. A primeira é a
história, seguida da dimensão cultural, organização coletiva e trabalho. Para
ela, os processos educativos precisam dar conta desses quatro processos.
Sobre a perspectiva do trabalho nas relações educacionais,
Jesus explica também que o mesmo é criador, recriador e transformador do
processo de humanização e organização da luta no campo. O objetivo é ser um
instrumento de resistência à ofensiva do capital no campo, que se expressa
também no agronegócio e nas relações de exploração produzidas.
Agroecologia e educação
Horta Coletiva no Extremo Sul da Bahia.
Foto_DivulgaçãoMST.jpg
Estudantes cultivam horta coletiva no
Horta Coletiva no Extremo Sul da Bahia.
Foto: Divulgação MST
Para avançar nessa dimensão do trabalho, mas não perder de
vista as necessidades do local onde a escola do campo está inserida, é
necessário pensar essa escola e organizar seu currículo escolar também a partir
do campo.
Experiências que marcam a luta pela inserção de uma gama de
temas, como a Agroecologia, enquanto disciplina nas escolas do campo,
encontram-se no Estado da Bahia. Hoje, nas regiões Sudoeste e Extremo Sul em
que essa disciplina encontra-se no currículo escolar de centros de formação e
de escolas públicas, que trabalham com a infância.
No Extremo Sul da Bahia se destacam as experiências
construídas a partir de uma luta conjunta que são realidade no município de
Alcobaça. O primeiro passo foi propor ao município a disciplina da Agroecologia
como componente da grade curricular nas escolas do campo. A seguir, em parceria
com o Sindicato dos Professores foi possível mobilizar e aprovar a disciplina
na Câmera de Vereadores. Essa foi a primeira localidade no estado a prever a
disciplina em sua grade curricular no ensino público municipal.
Em entrevista para Página do MST, concedida em novembro de
2018, Dionara Ribeiro, da coordenação pedagógica da Escola Popular de
Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB), diz que o foco dessa
conquista foi o “zelo” pela construção coletiva.
“Todas e todos os educadores que se engajaram nesse trabalho
tiveram um papel fundamental, tanto na prática pedagógica que construíram em
cada escola, quanto na participação, problematização e na reflexão realizada em
cada curso e seminário”, argumenta.
Dionara Ribeiro, da coordenação pedagógica da Escola Popular
de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto
(EPAAEB).Foto_ColetivodeComunicaçãodoMSTnaBahia (1).jpeg
Dionara Ribeiro, da coordenação pedagógica
Da EPAAEB. Foto: Coletivo de Comunicação
Do MST na Bahia
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