A mineradora Vale
corre esperando apenas a licença de instalação para iniciar as obras do Salobo III, a segunda expansão do
projeto que está encravado em terras marabaenses, que só este ano injetou nas
contas da prefeitura local mais de R$ 50 milhões (entre janeiro a setembro) com
a Cfem (Compensação Financeira pela
Exploração Mineral). Para a empresa, será ótimo porque a ampliação do
beneficiamento irá incrementar a produção de cobre na mina do Salobo e
viabilizar o beneficiamento do minério de baixo teor.
Para a Prefeitura de Marabá, a boa notícia, a médio prazo, é
que a arrecadação com ISS (Imposto Sobre
Serviços) deverá mais que duplicar durante a fase de obras, que está
prevista entre os anos de 2018 a 2021. Encerrada esta etapa, começa o período
áureo de produção de cobre (e também de ouro) e os repasses ao município vão
aumentar, uma vez que a Vale planeja
elevar a produção de 24 milhões de toneladas/ano para 36 milhões de toneladas.
Para a fase de obras da expansão do Salobo, a Vale não divulgou ainda o valor a ser
investido, mas consultores que atuaram nas duas primeiras etapas deram uma
pista à Reportagem sobre o volume de recursos a ser empregado neste projeto.
Lembram que na primeira fase a empresa desembolsou U$ 2,5 bilhões para
construir toda a estrutura, incluindo estrada, ramal ferroviário, linhão de
energia, entre outros. Na segunda fase, foi empregado U$ 1,7 bilhão. Agora,
calcula-se, que o investimento seja entre U$ 1,3 a U$ bilhão.
A Vale terá uma
demanda adicional de energia elétrica da ordem de 58 MW, com utilização da
estação existente e uma nova subestação principal. Também vai instalar um mega
gerador a diesel de emergência de 300 kVA; captação de água recuperada na
Barragem do Mirim (cerca de 3.600 m³/hora e reservatório dedicado de 22.000 m³.
Uma infraestrutura de apoio para desenvolver essas obras
deverá ser montada, com acesso ao Projeto Salobo pela Estrada Paulo Fonteles,
gerando um tráfego estimado em 150 veículos por dia, concentrado no trecho
entre os alojamentos do projeto e a mina do Salobo.
A mineradora projeta gerar mais 3.700 empregos diretos e,
durante o período de operação, a partir de 2021, serão gerados 800 novos
empregos diretos, os quais se somarão aos 3.500 empregados que já trabalham nas
plantas do Salobo I e II.
Na última semana, cinco engenheiros da Vale compareceram à
reunião ordinária do Conselho Consultivo da Floresta Nacional Tapirapé Aquiri
para apresentar o projeto Salobo III.
Fizeram uso da palavra Michelle Matos de Souza, Patrícia Seabra, Andreya
Teixeira, Vitor Pimenta e Rodrigo Garrocho. Este último fez apresentação
técnica do projeto e os demais ajudaram a tirar dúvidas dos membros do
Conselho.
A mineradora alega que não haverá aumento da capacidade de
lavra, e que utilizará a mesma rota de processo da instalação já existente e
mesma quantidade de minério e estéril da mina existente. Atualmente, parte do
minério é estocada para processamento futuro. Com a fase III do Salobo, este minério será enviado
diretamente para beneficiamento. “Dessa forma, haverá uma redução da quantidade
de minério estocado, que é de aproximadamente 220 milhões de toneladas”,
explicou Rodrigo Garrocho.
MAIS DINHEIRO EM MENOS
TEMPO
Com o Salobo III em
operação, a previsão da Vale é que a
mina sofra uma redução de sua capacidade de produção. No estágio atual de
retirada de minério, a empresa calcula que o cobre acabe em 2066. Mas, com a
nova expansão, a expectativa reduz para 2051, o que significa que serão 15 anos
a menos em relação ao anunciado inicialmente, restando 33 anos de exploração de
minério e, consequentemente, fim do pagamento de royalties.
Outro dilema é o ambiental. Quando a Vale colocar as mãos na licença de instalação, ela recebe junto uma
autorização para supressão da vegetação, podendo derrubar 97 hectares de
floresta nativa. Isso equivale a riscar do mapa 97 campos de futebol da flora,
mas, claro, sempre com impactos na fauna, embora a empresa seja obrigada a
apresentar um plano de coleta e afugentamento dos animais que estiverem naquela
área.
Os engenheiros ambientais da Vale disseram que foram
realizados estudos ambientais prévios na área onde será implantada a terceira
fase do Salobo, com levantamentos espeleológicos e arqueológicos,
levantamentos de impactos e proposições de medidas de
controle, realização de inventário florestal e valoração de produtos florestais
madeireiros e não madeireiros.
97 CAMPOS DE FUTEBOL A
DESMATAR
A empresa deu entrada de protocolo no Ibama em maio deste
ano, solicitando autorização para realizar a supressão (desmatamento) de 97,34
hectares na área destinada à ampliação, o que representa uma área do tamanho de
97 campos de futebol.
Atualmente, segundo a
empresa, a Vale faz a gestão de 38 licenças e 493 condicionantes do Projeto
Salobo junto à Agência Nacional de Águas, Ibama, ICMBio e Semas (Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade).
Entre os desafios levantados pelos conselheiros estão: o que
fazer com a cava quando acabar a mineração em 2051 e o que fazer com a montanha
da pilha de estéril?
O gestor da Flona
Tapirapé Aquiri, André Macedo, revelou que o Ibama encaminhou, em 6 de setembro, documentos para Brasília para
que o Instituto Chico Mendes avalie os impactos que serão causados e emita um
parecer. Em breve esse documento será enviado a Marabá e, só então, eles
poderão avaliar de forma mais precisa todos os impactos. “Vamos discutir essa
demanda com o Conselho Consultivo para emitirmos nosso parecer”, garantiu.
E OS EMPREGOS?
Os políticos de Marabá precisam chamar a Vale urgentemente
para conversar e colocar alguns pontos na mesa. Entre eles, discutir a
contratação de mão de obra para a fase de obras e para a produção. Isso é
importante porque a empresa poderá contratar a maior parte de Parauapebas, como
aconteceu nas fases anteriores, em função da proximidade da mina e usina de
beneficiamento.
É preciso saber, também, se não haverá audiências públicas
para avaliar, junto com a sociedade, os impactos socioambientais que virão.
Publicado no:(https://zedudu.com.br/projeto-salobo-vai-contratar-3-700-trabalhadores-a-partir-deste-ano/)