MST lança carta aos candidatos e candidatas às eleições
municipais
A Carta da Reforma Agrária Popular e os municípios propõe
medidas possíveis e necessárias a serem executadas c Da Página do MST
Em tempos de pandemia e campanha eleitoral para eleições
municipais, durante a Conferência: “Eleições Municipais e os Desafios da Classe
Trabalhadora”, realizada no último dia 22 de outubro, o MST apresentou a Carta
da Reforma Agrária Popular e os Municípios com medidas possíveis e necessárias
a serem executadas com a força da participação popular.
No documento os Sem Terra defendem o exercício da democracia
e política por parte da população dos municípios, buscando pressionar o cobrar
dos governos estaduais e federal para que se responsabilizem por assegurar
condições de vida digna nos municípios a todo o povo.
A carta indica a necessidade dos governos defenderam a
soberania alimentar, enfrentando o problema da fome com o fortalecimento de
“programas e políticas públicas que incentivem a produção de alimentos diversos
e saudáveis nas áreas da reforma agrária, através do PAA Municipal – Programa
de Aquisição de Alimentos e do PNAE – Programa Nacional de Alimentação
Escolar”, propõe.
Além da necessidade de arrecadação de terras disponibilizando
áreas da União nos municípios, promover a defesa ambiental, o incentivo à
cultura, educação, esporte, lazer e saúde, e melhorar a infraestrutura nos
acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária.
Veja abaixo o documento na íntegra.
A Reforma Agrária Popular e os municípios
Carta do MST às candidatas e aos candidatos às eleições
municipais
O contexto das eleições de 2020 é marcado por uma profunda
crise do sistema do capital, agravada por uma pandemia que já fez milhares de
vítimas no Brasil. A situação social do país é grave com 13,8% da população
desempregada e cerca de 40 milhões vivendo de bico ou trabalho precário.
Segundo o Banco Mundial, o Brasil deve fechar o ano de 2020 com 14,7% de sua
população em extrema pobreza.
A partir de 2016, a agenda ultraliberal do golpe, impôs
sucessivas retiradas de direitos: a Emenda Constitucional 95 do teto dos
gastos, a reforma trabalhista, a volta do Brasil ao mapa da fome, sucateamento
dos programas de fortalecimento da agricultura familiar, diminuição de
programas de assistência social, redução da oferta de empregos, queda da massa
salarial e a reforma da previdência.
Tudo isso tem impacto direto no município e coloca desafios
fundamentais para os futuros e futuras prefeitos, prefeitas e para os
vereadores e vereadoras.
Diante deste quadro, apresentamos a presente CARTA da
REFORMA AGRÁRIA POPULAR e os MUNICÍPIOS com medidas possíveis e necessárias a
serem executadas com a força da participação popular, exercendo de forma
democrática a política e pressionando os governos estaduais e federal para que
se responsabilizem por assegurar condições de vida digna nos municípios para
todo o povo.
Soberania Alimentar
Enfrentar o problema da fome, fortalecendo programas e
políticas públicas que incentivem a produção de alimentos diversos e saudáveis
nas áreas da reforma agrária, através do PAA Municipal – Programa de Aquisição
de Alimentos e do PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar;
Desenvolver políticas de nutrição e alimentação saudável,
para diminuir o sobrepeso e a obesidade, causadores de inúmeras doenças.
Precisamos de comida de verdade!
Organizar o banco popular de alimentos no município com a
participação dos pequenos produtores no abastecimento periódico e na gestão;
Estimular a produção agroecológica, sem o uso de agrotóxicos
ou transgênicos, desenvolvendo uma política de fomento, crédito e aquisição de
insumos. Combater a pulverização aérea de agrotóxicos como medida fundamental
para garantir alimentos saudáveis, preservação dos bens naturais e da saúde
humana;
Integrar a politica de reforma agrária com a garantia da
irrigação, especialmente na região do semiárido;
Incentivar a formação do COMUSAN ou CONSEAN – Conselho de
Segurança Alimentar e Nutricional. E a construção do Plano de Soberania
Alimentar do município;
Criação da Secretaria de Segurança Alimentar e de
Agricultura nos municípios e da CAISAN – Câmara Intersecretarial de Segurança
Alimentar e Nutricional;
Estimular a criação de frentes ou comissões de soberania
alimentar nas Câmaras Municipais, com ampla participação da sociedade;
Garantir redes de comercialização direta dos pequenos
produtores com os consumidores, através de cestas, pontos de distribuição e
feiras periódicas com caráter educativo sobre nutrição e vida saudável;
Construir agroindústrias dentro das áreas da Reforma
Agrária, com pequenas unidades de beneficiamento que possibilitem agregar valor
à produção, ampliando a diversidade de produtos e gerando trabalho e renda,
principalmente para a juventude e para as mulheres.
Arrecadação de Terras
Disponibilizar áreas do município para formação de Comunas
da Terra, com espaço para moradia, produção de alimentos e cultivo de árvores;
Arrecadar áreas da União e do Estado que podem ser
solicitadas pelos municípios para o desenvolvimento de projetos sociais de
moradia, produção de alimentos e geração de renda;
Destinar projetos públicos de irrigação para a Reforma
Agrária, através do repasse do Ministério da Integração – MI para o INCRA –
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, priorizando os perímetros
já ocupados;
Estimular a agricultura periurbana, tendo os agricultores e
agricultoras dos acampamentos e assentamentos como agentes populares de hortas,
agroflorestas, produção de sementes, construção de viveiros de mudas etc.
Defesa Ambiental
Estimular a formação do CONDEMA – Conselho Municipal de
Defesa do Meio Ambiente com ativa participação da sociedade e construção do
Plano Municipal de Meio Ambiente do município;
Incentivar a agrofloresta como meio de produção de alimentos
fartos e diversos, criando sistemas saudáveis de equilíbrio com a natureza;
Estruturar viveiros nas áreas da reforma agrária e parcerias
com hortos municipais, para ampla distribuição de mudas de árvores para as
populações urbanas, especialmente das periferias.
Cultura, Educação, esporte, Lazer e Saúde
Incentivar a educação do campo e o direito das crianças,
adolescentes e jovens de estudarem próximos de suas moradias e dentro de sua
realidade. Não fechar nenhuma escola do campo e construir escolas onde for
necessário nas áreas da educação infantil, Básica e EJA – Educação de Jovens e
Adultos;
Organizar bibliotecas populares, espaços de cultura com
diferentes linguagens artísticas, centros de esporte e lazer dentro dos
acampamentos, assentamentos e também nas periferias urbanas;
Apoiar a montagem e funcionamento das rádios populares,
rádios postes, jornais impressos, jornais murais que estimulem a comunicação e
o acesso à informação;
Estimular processos de formação e capacitação em soberania
alimentar, alimentação saudável e defesa popular da natureza contra as mudanças
climáticas;
Efetivar a construção de unidades de saúde nas áreas da
Reforma Agrária, implantação do PSF – Programa Saúde da Família e incentivo ao
cultivo e manipulação de ervas medicinais e condimentares;
Estruturação de políticas e programas de enfrentamento à
violência doméstica, especialmente contra crianças, mulheres, LGBTs – Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros e vulneráveis, voltado
para a realidade do campo.
Infraestrutura
Melhoria e manutenção de pontes e estradas dos acampamentos
e assentamentos possibilitando a circulação de pessoas, veículos, transporte
escolar, e de escoamento da produção, com pavimentação dos trechos mais
críticos;
Garantir do acesso à água potável nas áreas da Reforma
Agrária para consumo humano, redes de distribuição onde for possível e busca de
soluções para captação e armazenamento de água para irrigação;
Construção de espaços coletivos nas áreas da Reforma
Agrária, tais como praças, bosques, quadras poliesportiva e academia ao ar
livre;
Disponibilizar Internet em espaços públicos proporcionando o
acesso às comunidades do campo, historicamente inviabilizadas do direito à
comunicação.
O Projeto de Lei Orçamentária Anual – PLOA 2021 enviado ao
congresso pelo governo Bolsonaro, traz um corte de 42% nas áreas de Saúde,
Educação, Assistência Social e Segurança Alimentar. Essas importantes áreas,
necessitam de pelo menos R$ 665 bilhões de Reais e o governo reduziu isso no
projeto a R$ 374,5 bilhões, o que deve causar forte impacto nos municípios.
Vivemos tempos difíceis, mas com organização popular e força
política dos setores democráticos da nossa sociedade, certamente podemos mudar
essa situação. Por isso, contamos com vocês para que exerçam a disputa
institucional como trincheira de luta e compromisso com a classe trabalhadora
de forma ética e militante.
Vamos à luta, a vitória do povo vai triunfar! Derrotaremos o
bolsonarismo nas ruas e nas urnas, sempre, sempre, sempre!!
Brasil, 22 de outubro de 2020
Conferência Reflexões em Tempos de Pandemia. Tema: Eleições Municipais
e os Desafios da Classe Trabalhadora
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