quinta-feira, 10 de novembro de 2022
Seminário Internacional da Via Campesina Brasil debate diversidade sexual e identidade de gênero
Coletivo LGBTI da Via Campesina Brasil realiza segunda edição de Seminário, que reuniu mais de 60 pessoas de diferentes nacionalidades, em Guararema (SP).
Notícias
9 de novembro de 2022
Diversidade de corpos LGBTI+ esteve presente na Escola Nacional Florestan Fernandes. Foto: Emily Firmino
Por Mário Manzi/CPT
Da Página do MST
Entre os dias 03 e 06 de novembro de 2022, mais de 60 pessoas de oito nacionalidades diferentes, participaram do 2ª Seminário Diversidade Sexual e Identidade de Gênero na Via Campesina Brasil, que teve como tema “LGBTI+ La Via Campesina: Colorindo territórios e semeando orgulho e resistência!”.
A segunda edição do seminário, desta vez presencial, foi realizada na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). A atividade é um dos resultados de um extenso processo de construção coletiva de discussões, formações e encontros. Participaram representantes de dez organizações, movimentos sociais, além de povos e comunidades tradicionais de Brasil, Argentina, Colômbia, México, Nicarágua, Paraguai, Peru e Alemanha.
Dentre as discussões abordadas pela programação constaram os desafios dos povos do campo, das águas e das florestas na construção de um projeto de campo com produção de alimentos e relações humanas saudáveis; saúde LGBTI+; Patriarcado, racismo e capitalismo e o desafio da luta decolonial, não binária e anti-LGBTifobica na América Latina; Território, orgulho e resistência LGBTI+ no campo; orientação sexual, identidade de gênero e interconexões com a luta de classes.
Para garantir a efetividade das discussões, o evento disponibilizaou tradução simultânea durante as falas. O seminário também se constituiu como momento de partilha de experiências, bem como uma ocasião para apresentar os materiais produzidos pelo Coletivo LGBTI+ da Via Campesina e pelas organizações. Destacou-se, no material pedagógico distribuído às pessoas participantes, uma cartilha específica do evento, que trouxe a linha histórica de formação do Coletivo.
O início do seminário foi dedicado à acolhida das pessoas participantes. Em seguida foi apresentada uma análise de conjuntura nacional e internacional, com ênfase na exposição dos desafios para povos do campo, indígenas e quilombolas na construção de um projeto de com produção de alimentos e relações humanas saudáveis.
Foto: Emily Firmino
Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST falou sobre a importância do seminário neste contexto político. “Garantir um encontro como esse é um grande ato de consciência. Ser quem a gente é, nessa conjuntura, bate de frente com o que é proposto por essa face extremista da sociedade. Alegria é parte da nossa resistência”, destacou.
Acerca do avanço da direita, por meio de artifícios narrativos, Symmy Larrat, presidenta da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), especificou que “defesa da família, da moral e dos bons costumes, e vencer o comunismo, são usados como argumentos dessa narrativa fascista, que traz a nossa vivência [LGBTQIA+] como principal inimigo para ser derrotado”.
Ao longo da discussão sobre a conjuntura política, Rita von Hunty, drag queen intepretada pelo professor Guilherme Terreri, deu destaque à necessidade de um enfrentamento por meio do encantamento. “É urgente que nós, enquanto esquerda, façamos uma política que encante, uma política anti-capitalista. Precisamos pensar como oferecer narrativas que façam frente à narrativa de fim de mundo”, concluiu.
Luta e Acolhida
“Somos nós que defendemos as famílias, todas as famílias!”. Gahela Tseneg Cari Contreras, trans afroandina indígena do Peru, em sua fala, contrapôs o argumento discursivo moral, utilizado como ferramenta de exclusão das pessoas LGBTI, ao afirmar que o processo de acolhida de todas as pessoas, a despeito do preconceito como base, independente de orientação sexual ou identidade de gênero, e culmina na proteção familiar, ao entender a construção do núcleo social, que é a família, a partir da perspectiva da inclusão e do afeto.
Questão racial e questão indígena
As mesas dedicaram-se com afinco às discussões que atravessam as existências de pessoas LGBTI. O racismo foi uma das questões analisadas, destacando-se a fala de Rosa Negra, da coordenação pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). “Não tem como discutir a questão agrária no Brasil sem discutir a questão racial, porque há uma desigualdade gigante na distribuição de terras”, concluiu Rosa.
As lógicas capitalistas também foram consideradas nas análises. Como descreve Rosa, “não tem como discutir a questão agrária no Brasil sem discutir a questão racial, porque há uma desigualdade gigante na distribuição de terras”.
Cony González, da Organização de Mulheres Campesinas e Indígenas (Conamuri) do Paraguai, seguiu a fala, dando continuidade à mesma relação entre a patriarcalidade e o controle dos corpos. “No sistema patriarcal meu corpo como mulher deve ser um corpo destinado ao trabalho reprodutivo, assim mesmo como o corpo dos hombres deve ser um corpo produtivo”, afirmou.
Débora Lima Gomes, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) ressaltou a importância das mulheres, da juventude e das pessoas LGBT na luta pela terra. “A linha de frente de luta pela terra, são as mulheres, é a juventude, são as LGBT. E muitas vezes é invisibilizado. Não importa para onde eu vá, meu corpo LGBT vai comigo”, concluiu.
Luana Oliveira, do MST e do Coletivo LGBTI da Via Campesina, no mesmo sentido, falou sobre as ameaças que se impõem sobre pessoas negras, mulheres e LGBTIs mesmo no contexto dos movimentos sociais e da Via Campesina. “A gente tá lidando com relações humanas, a gente tá lidando com corpos diversos, não somos uma ilha. A via Campesina enfrenta também o perigo do racismo, do machismo, da LGBTIfobia. Enquanto humanos atravessados por estas várias opressões do Capital, precisamos pensar a transformação social na Reforma Agrária Popular para produzir relações humanas saudáveis, para além de alimentos saudáveis”.
Foto: Emily Firmino
Representante da Mídia Índia e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Erisvan Guajajara expôs a necessidade de incidir politicamente por meio da proposta de “Bancada da Terra”. “O Brasil tem uma dívida histórica com os povos indígenas e o povo negro. E estamos reconstruindo nossa história. Estamos em parceria com os movimentos populares para construir a bancada da terra, para fazer frente a bancada ruralistas”, explicou.
A relação da questão da terra com os processos históricos foi abordada por Vinícius Oliveira, do MST. “A terra é nossa materialidade essencial e comum, luta que nos conecta enquanto povo. Processos históricos que vão se constituindo nos territórios são pautados numa estrutura de violência”, ressaltou.
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