Justiça do Rio manda soltar músico que teria sido preso por
engano em Niterói, no RJ
Luiz Carlos Justino, de 23 anos, toca violoncelo e foi preso
na quarta (2), acusado de participar de um assalto à mão armada ocorrido em
2017. Parentes e amigos dizem que ele fazia uma apresentação em uma padaria no
momento do crime. A Justiça do Rio mandou soltar o músico Luiz Carlos Justino,
de 23 anos, que teria sido preso por engano na quarta-feira (2) em uma blitz no
Centro de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Em sua decisão, proferida durante o plantão judiciário no
sábado (6), o juiz André Luiz Nicolitt determina ainda que o músico cumpra
prisão domiciliar, "devendo a defesa comprovar perante o Juízo de primeiro
grau o endereço em que o réu cumprirá a medida e poderá ser localizado".
No sábado (6), parentes e amigos de Luiz Carlos fizeram um
protesto em frente ao presídio de Benfica, na Zona Norte. O jovem, acusado de
um assalto, foi reconhecido pela vítima por foto, na delegacia, mas a família
afirma que, na hora do crime, ele tocava em uma padaria.
"Em termos doutrinários, o reconhecimento fotográfico é
colocado em causa em função de sua grande possibilidade de erro. A psicologia
aplicada tem se empenhado em investigar fatores psicológicos que comprometem a
produção da memória. Neste ramo, encontramos Segundo a polícia, havia contra o
músico um mandado de prisão em aberto por assalto à mão armada. O crime pelo
qual Luiz Carlos está sendo acusado aconteceu na manhã de 5 de novembro de
2017, um domingo.
No entanto, parentes e pessoas que trabalhavam com o músico
contestam a versão de que Luiz Carlos tenha participado do assalto. Argumentam
que, na época, ele tinha contrato fixo com uma padaria, onde tocava violoncelo
– e as apresentações aconteciam sempre aos domingos pela manhã.
Segundo o processo, o crime aconteceu na Vila Progresso, que
fica a 7 km da padaria na qual, segundo as testemunhas, o músico tocava.
Na decisão que decretou a prisão preventiva, a juíza
Fernanda Magalhães Freitas Patuzzo afirmou que a prisão era necessária para
garantir a tranquilidade da vítima que reconheceu Luiz Carlos na delegacia. Mas
não esclarece como foi feito este reconhecimento. Na época, o caso foi
investigado pela Delegacia de Jurujuba. O delegado era Cláudio Ascori.
A Polícia Civil foi questionada de que maneira que foi feito
o reconhecimento pela vítima, mas a corporação não respondeu. No dia em que foi
realizado o registro do crime, Luiz não tinha antecedentes criminais.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ)
também foi questionado com base em quais provas colhidas no inquérito se
baseiam a decisão de denunciar o músico, mas não havia respondido até o final
da manhã deste sábado (5).
contribuições que dissecam as variáveis que podem interferir
na precisão (accuracy) da A esposa de Luiz Carlos afirma que ele é muito
distraído e já perdeu os documentos várias vezes. A família desconfia que o
músico possa ter sido vítima de fraude.
“Ele costumava, sim, perder muito os documentos. Perdeu duas
ou três vezes. E, como para ele era só ir lá e fazer outro, alguém usou o
documento, usou para fazer alguma coisa e ficou gravado lá o nome dele”,
declarou Mariana Soares do Nascimento, esposa de Luiz.
As apresentações na padaria
A publicitária Cristina Guerra conta ter sido uma das pessoas
que convidaram Luiz Carlos para se apresentar na padaria, chamado Café Musical.
"Todos os domingos, nós também estávamos lá, porque a
gente ficava criando conteúdo para veicular nas redes sociais. Então, eu tenho
certeza absoluta de que, neste domingo, no dia 5 de novembro de 2017, eles
estavam lá tocando, das 8h até o meio-dia”, afirma Guerra.
Nesse projeto musical, Luiz Carlos costumava se apresentar
com o tio. "Todo domingo de manhã a gente tinha contrato com uma padaria.
Inclusive, a gente tocou lá mais de dois anos", lembra Leandro Justino,
que também é músico.
"Até agora, estou tentando entender isso [a prisão].
Porque, para uma pessoa acusar a outra, ela tem que ter a certeza. (...) Como
reconheceram, se ele, pelo que sei, não tinha ficha nenhuma?”
Já a mãe de Luiz Carlos diz: “Não consigo nem entrar na
minha casa. Estou desde quarta sem comer nada, sem dormir direito. Toda hora
acordo, às vezes escuto ele me chamar”.
Músico entrou para orquestra aos seis anos
Luiz Carlos é o segundo filho de uma família de seis irmãos.
Tomou gosto pela música aos 6 anos de idade, quando entrou para a Orquestra de
Cordas da Grota. O coordenador e antigo maestro o acompanhou desde os primeiros
passos.
“Ele sempre estudou e sempre estava tocando lá, e sempre participou,
desde as orquestras iniciantes, e hoje ele está na orquestra principal”,
explicou o maestro Márcio Paes Selles.
Ainda criança, ele chegou a aparecer em uma reportagem e uma
TV da Alemanha, que mostrava as crianças do projeto social.
memória", diz um trecho da decisão.
E acrescenta:
"São muitas as objeções que se pode fazer ao
reconhecimento fotográfico. Primeiro, porque não há previsão legal acerca da
sua existência, o que violaria o princípio da legalidade. Segundo, porque, na
maior parte das vezes, o reconhecimento fotográfico é feito na delegacia, sem
que sejam acostadas ao procedimento 'as supostas fotos utilizadas' no catálogo,
nem informado se houve comparação com outras imagens, tampouco informação sobre
como as fotografias do indiciado foram parar no catálogo, o que viola a ideia
de cadeia de custódia da prova", explica.
O juiz diz ainda que "não é possível saber se o autor
do 'reconhecimento' indicou o indivíduo reconhecido, confirmou uma opinião de
terceiros, ou, até mesmo, se existiram dúvidas se o autor da conduta criminosa
seria a pessoa da fotografia".
"Precisamente sobre o caso, causa perplexidade como a
foto de alguém primário, de bons antecedentes, sem qualquer passagem policial
vai integrar álbuns de fotografias em sede policial como suspeito".
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