
Acusados de matar Marielle e Anderson são transferidos, em
operação secreta, para penitenciária em Rondônia
Juiz federal corregedor de Mossoró determinou o translado de
Lessa e Queiroz a Porto Velho porque Orlando Curicica, que ajudou na elucidação
do caso, estava preso na mesma unidade
Vera Araújo
07/07/2019 - 04:30
Acusados da morte de Marielle Franco começam a ser ouvidos
pela justiça Foto: Fotos de Pablo Jacob / Agência O GLOBO
Acusados da morte de Marielle Franco começam a ser ouvidos
pela justiça Foto: Fotos de Pablo Jacob RIO — O sargento reformado da Polícia
Militar Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz já estão num novo
endereço: a Penitenciária Federal de Porto Velho , em Rondônia . Apontados pela Delegacia de Homicídios da Capital e pelo
Ministério Público do Rio como os assassinos da vereadora Marielle Franco
(PSOL) e do motorista Anderson Gomes , Lessa e Queiroz foram transferidos
da Penitenciária Federal de Mossoró , no Rio Grande do Norte, para a
unidade do Norte do país, no meio da semana passada. Numa operação sigilosa
para evitar uma fuga, o translado dos presos foi feito por policiais federais.
O motivo da transferência — fundamentado em decisão do juiz federal corregedor
da Penitenciária Federal de Mossoró, Walter Nunes da Silva Junior — foi o fato
de o miliciano e ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica ,
também estar na mesma unidade. Antes de a Polícia Civil prender Lessa e Queiroz pelo duplo homicídio , em 12 de março
deste ano, o miliciano era o principal suspeito pelo crime . O juiz federal
corregedor ressaltou em sua decisão que havia urgência na transferência dos
presos, porque Curicica "forneceu às autoridades informações importantes
do envolvimento de Ronnie (Lessa) e Élcio nos assassinatos de Marielle Franco e
Anderson Gomes".
O pedido para que os dois deixassem o Rio foi feito pelas
promotoras do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco),
Simone Sibilio e Letícia Emile ao juiz do 4º Tribunal do Júri, Gustavo Kalil,
logo que ambos foram presos, no dia 12. O Departamento Penitenciário Nacional
(Depen), em Brasília, abriu as vagas para Mossoró. No dia 28 de março, Lessa e
Queiroz foram transferidos do presídio de Bangu 1, no Rio de Janeiro, para a
unidade do Rio Grande do Norte . Logo que
chegaram lá, a direção da penitenciária redobrou os cuidados com a
segurança de Curicica. O miliciano foi totalmente isolado. O número de agentes
penitenciários foi redobrado para resguardar a integridade do ex-PM. O juiz
federal corregedor determinou ao Depen que indicasse vagas para o sargento
reformado e seu cúmplice em outra unidade federal no país. Nunes informou que o
diretor do presídio de Mossoró apontou sobre a impossibilidade da permanência
de Lessa e Queiroz juntos na mesma cadeia com Curicica. Tanto que, em sua
sentença, o juiz federal corregedor enfatizou que a transferência da dupla de
detentos era "recomendável, para preservar a integridade física de
Orlando"./ Agência O GLOBO Inicialmente, Nunes deu um prazo de 60 dias
para a permanência de Lessa e Queiroz no presídio do Rio Grande do Norte, mas o
prazo se estendeu por mais de três meses. Em maio, o Depen reservou duas vagas
na Penitenciária Federal de Porto Velho, mas dependia da anuência do juiz
federal corregedor Walisson Gonçalves Cunha responsável pela unidade federal de
Rondônia. Em 10 de maio, o magistrado autorizou a transferência. Enfim, no
último dia 3, a transferência foi realizada.
Penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia. Acusados
de matar Marielle e Anderson foram transferidos para novo presídio de segurança
máxima por causa de Curicica Foto: Divulgação
Penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia. Acusados
de matar Marielle e Anderson foram transferidos para novo presídio de segurança
máxima por causa de Curicica Foto: Divulgação
A Penitenciária de Porto Velho fica a cerca de 3.270
quilômetros do Rio de Janeiro, ainda mais distante do que Mossoró da capital
fluminense, que é de cerca de 2.400 quilômetros. Inaugurada em 2009, o presídio
de Rondônia é o terceiro das quatro unidades federais de segurança máxima
construídas no país. Entre os presos que já passaram por lá está o traficante
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que fez o caminho inverso de
Lessa e Queiroz. Atualmente, ele está em Mossoró. Nas penitenciárias federais,
o controle dos presos e de suas visitas é considerado bastante rigoroso. Além
do raio-x corporal usado em todos os visitantes, uma outra medida chama a
atenção na segurança da unidade: até as conversas entre advogados e clientes
são gravadas.
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Próxima audiência do Caso Marielle tem data
No próximo dia 19, está marcada a segunda parte da audiência
de instrução e julgamento do caso Marielle e Anderson. Desta vez, algumas
testemunhas de acusação, que faltaram na primeira etapa , e as de defesa de
Lessa e Queiroz vão prestar depoimento ao juiz do 4º Tribunal do Júri, Gustavo
Kalil. Os dois réus irão falar por videoconferência, desta vez, a transmissão
será feita da Penitenciária Federal de Porto Velho.
Em 6 de junho, Lessa também depos por videoconferência no
processo sobre a posse ilegal de armas de fogo de uso restrito, à juíza da 40ª
Vara Criminal, Alessandra de Araújo Bilac. Em março, foram apreendidos num
apartamento vinculado ao sargento reformado, 117 peças de fuzil. O Gaeco e a
Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos da Polícia Civil
investigam a origem das armas.
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