quinta-feira, 31 de agosto de 2023
Mulheres do MST produzem alimentos saudáveis e diversidade nas áreas de Reforma Agrária
Confira o avanço do protagonismo feminino na produção de várias culturas de alimentos saudáveis, fitoterápicos e nas artes dentro do MST
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30 de agosto de 2023
Assentadas de Rondônia comercializam chocolate e derivados de cacau, na Feira Nacional da Reforma Agrária, em SP. Foto: MST RO
Por Solange Engelmann e Mariana Castro
Da Página do MST
As mulheres Sem Terra vêm a cada dia conquistando mais espaço e assumindo o protagonismo na luta pela terra e Reforma Agrária Popular, atuando em uma diversidade de áreas e coletivos, a exemplo da produção de alimentos saudáveis e fitoterápicos, essenciais para garantir a vida, a saúde e sobrevivência das famílias Sem Terra nos territórios dos acampamentos e assentamentos do MST pelo país.
“As experiências têm modificado várias coisas em relação à vida da mulher camponesa no assentamento. Primeiro, os chocolates, nibs, bombons e os derivados do cacau têm nos representado, com o protagonismo das mulheres. Segundo, essas mulheres têm se sentido valorizadas com o fruto do seu trabalho. E terceiro, elas também começam a ser ousadas e tomar decisões importantes, com a liberdade financeira. Então, a mulher tem autonomia de decisão”, comemora Zonália dos Santos, moradora do assentamento Madre Cristina, em Ariquemes, Rondônia.
Na luta contra a invisibilização do trabalho das camponesas nas áreas de Reforma Agrária, Giselda Pereira, da coordenação nacional do setor de Produção do MST, ressalta que as mulheres Sem Terra têm avançado em vários espaços na área da produção de alimentos saudáveis e no enraizamento da agroecologia, conquistando maior visibilidade no fruto do trabalho feminino e na participação das camponesas nos assentamentos e acampamentos do Movimento.
“Acho que o espaço da feira dá essa visibilidade, é a expressão também da origem dos produtos e de quem está envolvido diretamente nesses processos. Nessa perspectiva, na Feira Nacional [da Reforma Agrária], eram mais de 53% de mulheres participando. No levantamento realizado na última Feira estadual do Pará, 60% eram mulheres”, pontua.
Giselda também relata que é possível notar avanço das mulheres na condução de alguns processos organizativos, por meio da organização das cooperativas. Os espaços dos coletivos de mulheres do MST nos territórios também têm contribuído para ampliar a atuação das camponesas na produção, comercialização e processamento dos alimentos da Reforma Agrária.
“A atuação das mulheres na produção de alimentos saudáveis nas áreas de assentamento pelo país tem acontecido de diversas formas. No cotidiano, vemos na produção de alimentos a partir dos quintais produtivos, na inserção em coletivos de produção de mulheres e cooperativas e nos processos de formação e em debates sobre a agroecologia”, afirma Giselda.
Mas as mulheres do campo ainda convivem com a desigualdade de gênero e a dominação do patriarcado, exercida a partir de vários tipos de violências, discriminações e desigualdades.
Em geral, 8 em cada 10 lotes são dirigidos por homens e a participação das mulheres na gestão dos lotes e na posse da terra nos territórios rurais ainda é pequena, inclusive nas áreas de produção familiar e camponesa.
Segundo dados do Censo Agropecuário de 2017, os homens concentram a direção de 81,3% (4,11 milhões unidades) do total de estabelecimentos agropecuários entre as 5,07 milhões de unidades levantadas, enquanto as mulheres dirigem apenas 18,7% (946 mil unidades) dessas áreas, considerando todas as formas de direção.
A produção de chocolates e fitoterápicos em Rondônia
O chocolate produzido pelas camponesas e jovens assentadas de Rondônia é cultivado no modelo de produção agroecológico, a partir da implantação de agroflorestas, com os cuidados de respeito e equilíbrio com a natureza e os seres vivos do entorno.
A assentada Zonália conta que o gosto das mulheres e jovens pela produção do chocolate e beneficiamento dos derivados do cacau veio após alguns cursos, experiências de produção para o autoconsumo e o reconhecimento dos consumidores/as da primeira Feira Nacional do MST, em São Paulo. Hoje as camponesas produzem barras de chocolate, bombons, chocolate em pó e doces à base de cacau.
Fotos: MST RO
“O cacau a gente já tinha lavouras, a maioria feito em áreas de recuperações. E a gente só recolhia a amêndoa e vendia o cacau, aí começamos a fazer alguns cursos e fazia pro consumo e depois começamos a vender para amigos e o pessoal começou a gostar. Na primeira Feira Nacional da Reforma Agrária a gente fez uma quantidade boa e vimos que o chocolate, feito por nós de Rondônia, tinha uma valorização. Começamos a sentir gosto de fazer os chocolates, o povo gosta muito dos nossos chocolates e isso tem nos ajudado muito, porque saiu de Rondônia e foi pro Brasil, tomando uma proporção que a gente nem esperava”, relata Zonália.
Fotos: MST RO
As famílias assentadas de Rondônia, em sua maioria mulheres, também trabalham com a produção de fitoterápicos para a cura de suas famílias e de pessoas próximas. A produção é voltada para o autoconsumo e a sobrevivência das pessoas dentro da proposta agroecológica, nos assentamentos do estado, explica a assentada.
“Quando a gente fez os primeiros acampamentos em Rondônia, nos anos 90, fomos agraciados com uma proposta que era trabalhada nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Quando vamos para os nossos acampamentos, a gente leva esse saber, que é trabalhar com os fitoterápicos. Hoje a gente tem em todos os assentamentos pessoas que se dedicam com muito carinho e amor ao trabalho com fitoterápico e ajudam o próximo. E a maioria dos grupos é de mulheres”, relata Zonália.
A assentada de Rondônia explica que com a produção e comercialização dos produtos da Reforma Agrária, as camponesas do estado têm buscado garantir renda, agregando valor ao trabalho, bem como “garantir um alimento saudável com um valor mais acessível a todas/as/es, e garantir a nossa sobrevivência, enquanto camponesa, mas também a nossa militância”.
A avaliação das mulheres Sem Terra de Rondônia é de que as experiências do chocolate e fitoterápico tem um papel central em vários sentidos para avançar no protagonismo das mulheres na luta do MST: “Primeiro que as lavouras são próximas ao quintal, e como o cacau é uma árvore grande, bonita, os quintais ficam bem arborizados; segundo, tem lugares que as mulheres se juntam para fazer o chocolate ou colher o cacau. E terceiro, essa questão da liberdade financeira, isso tem sido muito rico para as companheiras em Rondônia”, conclui Zonália.
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