segunda-feira, 26 de junho de 2023

Direito à Educação MST alfabetizou mais de 100 mil adultos com a EJA em todo país Alfabetização é realizada em campanhas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com base no método de alfabetização cubano “Sim, eu Posso” e o Círculo de Cultura de Paulo Freire NotíciasReportagens Especiais 22 de junho de 2023 Jornada de Alfabetização do MST no Maranhão. Foto: Juliana Adriano Da Página do MST Juntamente com a luta pela democratização na terra e pela implantação da Reforma Agrária no Brasil, assim que iniciou as primeiras ocupações terras na década de 1980, o MST percebeu que aliado a essa luta era essencial também lutar pelo direito ao acesso à educação pública e de qualidade no campo, garantido na Constituição Federal de 1988, para a alfabetização das famílias Sem Terra e dos Sem Terrinha, a formação e profissionalização da sua base social para a continuidade da luta e avanços nas lutas da classe trabalhadora brasileira. Nesse contexto, há quase 40 anos o MST tem como prioridade a luta pelo direito à educação pública nos territórios onde vivem os trabalhadores/as Sem Terra do campo. Até o momento o MST já alfabetizou mais de 100 mil adultos pelo Brasil em campanhas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com base no método de alfabetização cubano “Sim, eu Posso”, criado em 1961 e o Círculo de Cultura de Paulo Freire, incorporado a partir de 2016 pelo setor de educação do MST na Jornada de Alfabetização no Maranhão, que se estendeu para áreas urbanas periféricas. Diante do processo de luta pela educação, o MST também conquistou a construção de cerca de 2 mil escolas públicas em assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária, garantindo o acesso à educação para 200 mil crianças, adolescentes, jovens e adultos; além de possibilitar a formação de 2 mil estudantes em cursos técnicos e superiores e técnicos e criar mais de 100 cursos de graduação em parceria com universidades públicas e institutos federais por todo país. Histórico da Alfabetização Ao longo do processo de luta pela terra e Reforma Agrária os Sem Terra edificaram o método, de forma paralela às ocupações de terra em processos de EJA, a partir da necessidade de alfabetização e acesso à educação pública aos trabalhadores e trabalhadoras do campo. A partir da década de 1990, o MST definiu algumas linhas políticas e iniciou o desenvolvimento de ações pedagógicas contra o analfabetismo nos territórios. O marco histórico na EJA foi o lançamento do Projeto de Alfabetização do MST em 1991, no assentamento da antiga fazenda Annoni, em Sarandi, no Rio Grande do Sul, que contou com a presença do educador Paulo Freire na época. O projeto foi desenvolvido entre 1991 e 1993 em parceria com o Instituto Cultural Francisco de Assis, o Ministério da Educação (MEC), a Cáritas e a Ação de Educação Católica (AEC) e envolveu 100 turmas de alfabetização. A experiência foi a base para construção do projeto político pedagógico do MST na EJA nos acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária. Tiago Manggini, do setor de educação do MST, explica que o Movimento ao longo da sua trajetória de luta organiza diversas campanhas de alfabetização com a intenção de estabelecer unidade nas ações de alfabetização realizadas em vários estados, bem como “lutar por políticas públicas e criar uma mística buscando ampliar o processo de alfabetização e escolarização de jovens e adultos.” Segundo ele, os Sem Terra buscam desencadear um “processo de alfabetização de todos e todas jovens e adultos dos assentamentos e acampamentos coordenados pelo MST, que não tiveram acesso à leitura e à escrita, contribuindo para que essas áreas se tornem territórios livres do analfabetismo“, resumiu Manggini. Para Cristina Vargas, do setor de educação do MST, a experiência histórica do MST demonstra que o jeito de fazer a luta por educação é de forma paralela à luta pela terra, desenvolvendo experiências concretas de alfabetização e reflexão acerca da realidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. “A luta do MST pela Reforma Agrária acontece ao mesmo tempo em que o Movimento reivindica o acesso ao conhecimento, e ele também se coloca para construir um processo de educação de forma refletida, tendo como base a ação – reflexão – ação. Dessa forma constitui a sua história e suas ações na luta pela Educação do Campo”, pontua Cristina. Porém, por outro lado, ao longo dos anos várias Escolas do Campo foram fechadas em áreas de assentamento e acampamentos do MST, principalmente nos governos de Temer e Bolsonaro. Um estudo e levantamento realizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Rural na Amazônia (GEPERUAZ) e o Censo Escolar do INEP, constatou que 104.385 Escolas do Campo foram fechadas nos últimos 21 anos no Brasil. Somente, em 2021, foram 3.424 Escolas do Campo fechadas, o que se traduz na negação do direito à educação pública pelo governo federal para a população do campo. Sem Terrinhas do MST em luta por escola e educação pública no campo. Foto: Acervo MST-CE Portanto, paralelo à luta pela terra, o MST realiza uma Campanha Nacional permanente contra o fechamento e pela construção de novas Escolas do Campo, e denunciando que “Fechar Escola é Crime!”, alertando a população para o crime que é fechar essas escolas nas comunidades rurais Enraizamento da EJA Já nos anos de 1996 e 1997, o MST firma o primeiro convênio de EJA com o MEC, que envolveu 500 turmas de alfabetização e a formação e capacitação de 500 monitores. Parceria fundamental para o enraizamento dos projetos de alfabetização na base Sem Terra do MST em acampamentos e assentamentos. Nesse período também se destacam duas parcerias com governo estaduais; uma com a Secretaria de Educação do Estado do Paraná em 1996, envolvendo 100 turmas de EJA, e um convênio do MST com a Universidade Federal de Sergipe (UFSE), firmado em 1995. Outros acontecimentos importantes em 1997 também merecem atenção na área da alfabetização: a realização do 1° Encontro Nacional dos Educadores e das Educadoras da Reforma Agrária (ENERA), em que ocorre a socialização das experiências de EJA desenvolvidas em diferentes estados do país; E a criação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), resultado de anos de lutas dos movimentos populares do campo, que por meio da parceria com universidades e movimentos sociais possibilitou a alfabetização e escolarização de jovens e adultos, capacitação de educadores, e realização de cursos de graduação e pós-graduação, voltados aos trabalhadores e trabalhadoras, ligados aos movimentos de luta pela Reforma Agrária no país. Nesse período, também é firmada uma nova parceria entre o MST, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o MEC, que visava a criação de 680 turmas de alfabetização envolvendo dez mil educandos. Segundo Tiago Manggini, nesse sentido o setor de educação do MST percebe a importância da EJA como um instrumento fundamental nas áreas de acampamento e assentamento, para a escolarização no campo e o desenvolvimento político da organização. “Os Sem Terra não enxergam a EJA só como alfabetização, mas passam a percebê-la como um processo de escolarização, vinculado à formação humana em suas várias dimensões. Tal é a expressão da força que vinha ganhando a EJA neste período. A partir daí é cunhado o lema da alfabetização de jovens e adultos nos assentamentos e acampamentos: ‘Sempre é tempo de aprender'”, relata. Campanha de alfabetização do MST busca acabar com analfabetismo nos territórios de Reforma Agrária. Foto: MST BA Em 2007 as ações desenvolvidas pelo MST no campo da EJA convergem para a criação da Campanha Nacional de Alfabetização no MST: “Todos e Todas Sem Terra Estudando”, lançada durante o 5º Congresso Nacional do MST, em Brasília, com o objetivo de combater o analfabetismo nos territórios da Reforma Agrária. A intenção do MST com a campanha é estimular e buscar parcerias para possibilitar que todos e todas as pessoas que vivem nas áreas de acampamentos e assentamentos do Movimento tenham acesso à educação e/ou estejam inseridos de alguma forma em processos educativos. Círculos de Cultura de Freire, Jornada de Alfabetização no Maranhão. Foto: Juliana Adriano Entre 2016 e 2018, inspirado nos ensinamentos de Paulo Freire, o MST readapta a experiência dos Círculos de Cultura do pensador para alfabetização de trabalhadores e trabalhadoras de comunidades rurais e urbanas durante a Jornada de Alfabetização no estado do Maranhão, que alfabetizou 21 mil pessoas, trabalhou com dois métodos similares, que se complementam: o método cubano “Sim, eu Posso” e o método brasileiro, dos Círculos de Cultura de Paulo Freire, os dois ancorados em um projeto de sociedade e compromisso de emancipação. A partir de 2022, por meio do setor de educação, o MST também participa da Jornada de Alfabetização “Sim, Eu Posso!”, que acontece no município de Maricá (RJ), em parceria com a Prefeitura Municipal, com a intenção de zerar o analfabetismo no município. Campanha Internacional na Zâmbia Campanha de alfabetização na Província de Eastern, Zâmbia. Foto: Iris Pacheco Atualmente o MST também desenvolve a Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe coordenada pelos militantes da Brigada Internacionalista do MST na Zâmbia Samora Machel em parceria com o Partido Socialista (SP) do país. A campanha teve início em maio de 2021 e a meta é alfabetizar 10 mil camponeses e camponesas zambianos/as. Entre março e abril de 2022 ocorreu a formatura de 100 turmas pelo país, alfabetizando aproximadamente 2 mil camponeses e camponesa na primeira fase, nas Província de Eastern, Lusaka e Western, em 22 municípios, sendo a maioria em comunidades rurais. Campanha Bicicletas para Zâmbia arrecadou recursos para compra de 410 bicicletas. Foto: Brigada Samora Machel A Campanha entrou na segunda fase no ano de 2022, se estendendo para outras três províncias do país, Muchinga, Northern e Copperbelt, com a tarefa de alfabetizar 2.100 educandos ao longo de 2023. O lançamento da segunda fase ocorreu juntamente com a finalização da segunda fase da Campanha de Arrecadação de Bicicletas, construída em parceria com o Comitê de Amigos e Amigas do MST na Espanha, com o objetivo de viabilizar o acesso à escola pelos educadores e educadoras. A Campanha Bicicletas para Zâmbia foi realizada de forma simultânea à Campanha de Alfabetização, a partir de dezembro de 2020 e se encerrou com um saldo positivo, com a arrecadação de recursos para a compra de 410 bicicletas. *Editado por Fernanda Alcântara Posts relacionados Jornada de Alfabetização “Sim, Eu Posso!” inicia Ação Oftalmológica para educandos (as) 18 de abril de 2023 Estudantes de Colégio do Campo são campeões de jogos escolares, em Cascavel (PR) 11 de abril de 2023 MST

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