terça-feira, 16 de junho de 2020



Fiscalização em barreira sanitária em Belo Horizonte — Foto: Flávia Cristini/TV Globo
Fiscalização em barreira sanitária em Belo Horizonte — Foto: Flávia Cristini/TV Globo
Minas Gerais tem 22.024 casos confirmados do novo coronavírus, dos quais 502 resultaram em morte dos pacientes. A informação é do boletim epidemiológico divulgado nesta terça-feira (16) pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).
Ao todo, o estado registrou 269 novos diagnósticos positivos e 21 novos óbitos desde a vésperaOutros 227 óbitos seguem em investigação.
O governador Romeu Zema (Novo) tuitou sobre as mais de 500 mortes decorrentes da Covid-19 em Minas:
O número real de infectados pode ser ainda maior, já que, como o G1 mostrou em reportagem nesta segunda-feira (15), a diferença entre as notificações das prefeituras e o boletim da Secretaria de Estado de Saúde está na casa dos milhares.

Alerta em Belo Horizonte

A situação em Belo Horizonte preocupa: além de ser o município com mais casos da doença – 3.488, sendo 76 mortes – houve nove mortes na capital só nas últimas 24 horas.
Reportagem do G1 desta segunda-feira mostrou que a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva dedicados a pacientes com Covid-19 em Belo Horizonte atingiu, pela primeira vez, a marca de 80%. É o maior índice registrado desde a reabertura gradual do comércio na capital. O Hospital Risoleta Neves, em Belo Horizonte, atingiu, pela primeira vez, a taxa de ocupação total (100%) dos leitos de CTI destinados ao tratamento da Covid-19.
Na última sexta-feira (12), o prefeito Alexandre Kalil anunciou que não iria ampliar a reabertura do comércio na capital, mantendo a segunda fase da flexibilização. Ele já disse que não descarta voltar para a fase de "lockdown", com restrição completa do comércio, exceto pelos serviços essenciais. Há expectativa de nova coletiva de imprensa na próxima sexta (19) para atualizar a situação.

Casos por município

O município com mais casos da doença é Belo Horizonte ( 3.488), com 76 mortes, seguido de Uberlândia (2.176) e Juiz de Fora (881).
Ao todo, já houve ao menos um caso de coronavírus em 575 municípios mineiros – mais de 65% do estado.

As 21 mortes confirmadas nas últimas 24 horas ocorreram nos seguintes municípios:

  • Uberlândia: um homem de 94 anos, outro de 45 anos
  • Carandaí: homem de 50 anos
  • Itajubá: homem de 53 anos
  • Uberlândia: homem de 74 anos
  • Córrego do Bom Jesus: homem de 80 anos
  • Betim: mulher de 58 anos e homem de 64
  • Morro da Garça: homem de 83 anos
  • Belo Horizonte: nove pacientes
  • Naque: homem de 51 anos
  • Belo Oriente: homem de 75 anos
  • Ipatinga: homem de 66 anos

Perfil dos pacientes

A maioria dos pacientes que morreram em decorrência do novo coronavírus são homens: 54% do total. E idosos: 73% tem mais de 60 anos. Além disso, 84% dos óbitos ocorreram em pacientes que já tinham fatores de risco, principalmente hipertensão, diabetes e doença cardiovascular.
Outros fatores de risco registrados foram pneumopatia, doença renal, transtornos mentais, doença neurológica, tabagismo, neoplasia, hipotireoidismo e doença genitourinária.
No início da pandemia, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG) informava qual era a comorbidade de cada paciente que havia morrido com a Covid-19. Em abril, no entanto, a pasta parou de informar. Questionada, a SES disse que, pela "possibilidade de ocorrência em municípios de pequeno porte", "os pacientes podem ser facilmente identificados, quando descritas características específicas". "Assim sendo, no intuito de mantermos a confidencialidade das informações fornecidas pelos pacientes e/ou familiares, passamos a não mais divulgar o descritivo detalhado de informações por paciente".
O município com mais mortes até agora foi Belo Horizonte, com 76. Em seguida, Juiz de Fora, na Zona da Mata, com 38 óbitos, e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com 41.
Conheça a seguir as histórias de alguns desses pacientes que não resistiram ao coronavírus em Minas:

Morador de rua vítima da Covid-19

“Me ligaram da Santa Casa para me avisar que ele tinha sido internado com Covid-19. A minha ficha não caiu, sabe? Ainda não chorei direito”, disse Valter, irmão mais velho de Adilson.
Os irmãos perderam os pais e os avós muito cedo. “Adilson era brincalhão, inteligente, prestativo, chorão (risos). A vida foi muito ruim com ele. Ele foi para o caminho errado. Sofreu demais, sofreu demais”, lamentou.Única foto de Adilson Goulart que morreu de Covid-19 aos 38 anos — Foto: Valter Goulart/Arquivo pessoal
Após a morte do irmão, Valter começou uma peregrinação para conseguir sepultar o irmão.
“Ele não tinha documentos. Até eu achar a certidão de nascimento dele demorou muito. Aí o corpo foi levado para o IML. Para liberar eu tinha que identificar. Muito triste ver meu irmão daquele jeito. Sem roupa, envelhecido”, contou.
Quando estava internado, a preocupação de Adilson era o cachorro que vivia com ele. “Os companheiros dele de rua ficaram tomando conta”, disse Valter.

Casal morre com dez dias de diferença

Antônio Borges dos Santos, de 95 anos, e Luiza Francisca Pereira, de 89 anos, costumavam tomar sol juntos na varanda de casa em Rio Manso, cidade com pouco mais de cinco mil habitantes, na Região Central de Minas Gerais.
Antônio e Luiza morreram com dez dias de diferença — Foto: Arquivo pessoal
Antônio e Luiza morreram com dez dias de diferença — Foto: Arquivo pessoal
“Quando minha avó soube da morte do meu avô disse que não ia conseguir viver sem ele. Aí ela piorou muito”, disse Lívia Luiza de Oliveira Borges, neta do casal.
Os dois tiveram 13 filhos, dois deles faleceram. Deixaram 30 netos, 33 bisnetos e cinco tataranetos.
“Estavam sempre juntinhos e abraçados. Não podiam ver que estávamos vigiando que rapidinho paravam de abraçar. Foi bem difícil perder os dois em tão pouco tempo”, disse Lívia.

Primeiras mortes em Minas

A primeira morte em decorrência do coronavírus divulgada em Minas Gerais foi a de Marlene Eunice Vanucci, de 82 anos, moradora de Belo Horizonte. Ela foi internada no Hospital Biocor em Nova Lima em 21 de março, com quadro de febre, tosse e desconforto respiratório, sendo transferida para UTI dois dias depois. Ela morreu no dia 29 de março. A paciente também tinha doença cardiovascular crônica, diabetes mellitus e pneumopatia crônica.
No dia da morte de Marlene, sua nora fez um desabafo emocionado em uma rede social:
"Gostaria imensamente que os governantes fossem mais respeitosos com cada vida ceifada e sufocada pelo coronavírus. Sr. Ministro Mandetta se mantenha técnico e firme, não se deixe abater por ignorância. Mais amor e mais empatia", escreveu ela.

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